
O Presidente da Mesa: - Chamo o nosso candidato Camarada Staline para falar.
Os votantes acolhem a aparição do grande camarada Staline no púlpito com uma grande ovação que se arrasta por vários minutos. Todos os presentes na Sala do Teatro Bolshoi se levantam para o saudar. Ouvem-se gritos contínuos dizendo Viva o Grande Staline, Hurra!, Hurra pelo Camarada Staline, o criador da Constituição Soviética, a mais democrática do Mundo! ou Viva o Camarada Staline, líder dos oprimidos de todo o Mundo, Hurra! que se prolongam por vários minutos, até Staline dar mostras de aborrecimento... (vídeo abaixo)
O que é necessário, dizem-me, são explicações para certas questões associadas à campanha eleitoral. Que explicações e a que questões? Tudo o que tivesse de ter sido explicado foi explicado e repetidamente explicado nos nossos conhecidos documentos, enviados ao Partido Bolchevique, à Liga dos Jovens Comunistas, ao Conselho Central dos Sindicatos da União, à Sociedade de Defesa Aérea e Química ou ao Comité da Cultura Física. O que é que pode ser acrescentado a essas explicações?
Claro que se pode fazer um daqueles discursos ligeiros, falando de tudo e de nada (risos). Talvez um discurso desses animasse a audiência. Diz-se que há excelentes autores desse tipo de discursos não apenas no lado de lá, nos países capitalistas, mas também entre nós, no país dos sovietes (risos e aplausos). Mas, em primeiro lugar, não tenho jeito para esses discursos. Depois, será apropriado escrever algumas larachas quando todos nós bolcheviques estamos, como se costuma dizer, atulhados até ao pescoço com trabalho? Creio que não.

Fui nomeado como candidato, e a Comissão Eleitoral do Distrito Staline da capital soviética registou a minha candidatura. Isto, camaradas, é uma expressão de uma enorme confiança. Permitam-me demonstrar-vos a minha profunda gratidão bolchevique por esta confiança que demonstraram no Partido Bolchevique do qual sou membro e também em mim pessoalmente, como representante do Partido (aplausos entusiasmados e prolongados).
Eu compreendo o significado da confiança. Depositam-se sobre mim novos deveres adicionais e, por consequência, novas responsabilidades adicionais. E, claro, não é costume entre nós, os bolcheviques, recusar responsabilidades. Aceito-as com a minha maior boa vontade (aplausos entusiasmados e prolongados. Uma voz : E todos nós seguiremos o camarada Staline!). Podem dar como certo que o camarada Staline será capaz de desempenhar os seus deveres (Staline despeja uma garrafa de água num copo de onde depois beberrica) para com o povo (aplausos), com a classe operária (aplausos), com os camponeses (aplausos) e com os intelectuais (aplausos). (vídeo abaixo)
Mas a razão principal para aqui ter afixado alguns trechos do discurso de Staline, que são pouco conhecidos no Ocidente, foi para mostrar quanto alguns dos seus aspectos mais característicos, a começar pela excessiva falsa modéstia e a terminar nas aclamações mais do que entusiásticas da assistência, se assemelham – na modéstia própria e no entusiasmo alheio – a outros discursos daquela mesma época, embora proferidos por protagonistas que seriam, aparentemente, do outro extremo do espectro político, como era o caso de Salazar em Portugal…
Enfim, atendendo à semelhança do estilo dos discursos, e como dizem agora os comunistas portugueses com imensa candura e generosidade, depois das maduras reflexões sobre o passado a que dizem ter-se dedicado depois de 1989, aqueles anos 30 foram tempos de experiências bem intencionados em que se cometeram alguns erros e em que algumas expectativas saíram goradas…
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