Não há muitos nomes alemães associados ao período épico da aviação, o das grandes viagens solitárias em frágeis aviões monomotores, de que é exemplo maior o famoso voo de Charles Lindbergh de 1927, entre Nova Iorque e Paris (acima). De uma certa maneira, um alemão desforrou-se 60 anos depois, em 1987, não através de um voo transoceânico mas de um voo transcontinental e em direcção ao coração da Rússia, um destino que em si também era uma desforra do que lhes acontecera 45 anos antes em plena Segunda Guerra Mundial às portas de Moscovo. Mas, será preferível que regressemos ao princípio desta história um pouco complicada…
Para além dos três tradicionais (Exército, Marinha e Força Aérea), as Forças Armadas soviéticas possuíam ainda dois ramos adicionais: o dos Mísseis Estratégicos e o da Defesa Aérea (acima – Protivo Vozdushnaya Oborona – ПВО). Este último, equipado de mísseis antiaéreos e de esquadrilhas de caças de intercepção, tinha por missão defender o espaço aéreo soviético, o que fazia com o zelo que se deduzirá por episódios a que aqui já me referi neste blogue, a propósito do abate do U-2, um avião espião norte-americano em 1960, ou a propósito da intercepção de dois aviões (um deles, sul-coreano, foi abatido) comerciais no Extremo Oriente.
É por isso que quem se dispusesse a fazer o que o jovem alemão de 19 anos Mathias Rust realizou a 28 de Maio de 1987 precisava de combinar quantidades descomunais de ousadia, de determinação e... de ingenuidade. Para além de ter de contar com uma tremenda boa sorte… Este novo pioneiro da aviação, descolou de Helsínquia na manhã desse dia, com o seu avião monomotor, um Cessna 172, ajoujado de combustível tal qual o seu longínquo predecessor Spirit of Saint Louis, anunciando que tinha como destino Estocolmo (a Sudoeste) enquanto rumava a Sudeste, entrando no espaço aéreo da Estónia que fazia então parte da União Soviética.
A reconstituição posterior do encadeamento dos acontecimentos tornou-se um embaraço para as autoridades soviéticas, embora Rust tenha tido sorte em ter escapado com vida da aventura: mais do que uma vez o seu avião foi apanhado na mira dos radares dos mísseis anti-aéreos da Defesa Aérea e uma parelha dos seus interceptores acompanhou-o enquanto ele atravessou uma das Regiões Aéreas. Mas o piloto havia desligado o rádio e não ouvia as interpelações de terra. O pequeno Cessna 172 não parecia uma ameaça e assemelhava-se ao Yak-12 soviético. Podia tratar-se de um piloto local desastrado. A autorização hierárquica para o abate do intruso nunca chegou...
Para além dos três tradicionais (Exército, Marinha e Força Aérea), as Forças Armadas soviéticas possuíam ainda dois ramos adicionais: o dos Mísseis Estratégicos e o da Defesa Aérea (acima – Protivo Vozdushnaya Oborona – ПВО). Este último, equipado de mísseis antiaéreos e de esquadrilhas de caças de intercepção, tinha por missão defender o espaço aéreo soviético, o que fazia com o zelo que se deduzirá por episódios a que aqui já me referi neste blogue, a propósito do abate do U-2, um avião espião norte-americano em 1960, ou a propósito da intercepção de dois aviões (um deles, sul-coreano, foi abatido) comerciais no Extremo Oriente.
É por isso que quem se dispusesse a fazer o que o jovem alemão de 19 anos Mathias Rust realizou a 28 de Maio de 1987 precisava de combinar quantidades descomunais de ousadia, de determinação e... de ingenuidade. Para além de ter de contar com uma tremenda boa sorte… Este novo pioneiro da aviação, descolou de Helsínquia na manhã desse dia, com o seu avião monomotor, um Cessna 172, ajoujado de combustível tal qual o seu longínquo predecessor Spirit of Saint Louis, anunciando que tinha como destino Estocolmo (a Sudoeste) enquanto rumava a Sudeste, entrando no espaço aéreo da Estónia que fazia então parte da União Soviética.
A reconstituição posterior do encadeamento dos acontecimentos tornou-se um embaraço para as autoridades soviéticas, embora Rust tenha tido sorte em ter escapado com vida da aventura: mais do que uma vez o seu avião foi apanhado na mira dos radares dos mísseis anti-aéreos da Defesa Aérea e uma parelha dos seus interceptores acompanhou-o enquanto ele atravessou uma das Regiões Aéreas. Mas o piloto havia desligado o rádio e não ouvia as interpelações de terra. O pequeno Cessna 172 não parecia uma ameaça e assemelhava-se ao Yak-12 soviético. Podia tratar-se de um piloto local desastrado. A autorização hierárquica para o abate do intruso nunca chegou...
Mathias Rust chegou a Moscovo por volta das 7H00 da tarde. Estando-se em finais de Maio, naquelas latitudes ainda era dia claro. Mais tarde Rust confessou que a sua ideia original seria aterrar dentro do Kremlin mas, considerada a capacidade dos soviéticos para o secretismo optou – num raro momento de ponderação... – por efectuar a aterragem na turística Praça Vermelha, para que do seu feito houvesse testemunhos ocidentais. Mais que isso, como se vê acima e abaixo, até há fotografias da sua inesperada aterragem. Sortudo até ao fim, Rust escolheu uma pista de aterragem que dias antes estava atravancada de fios suspensos contra os quais teria chocado à chegada.
Ao contrário da de Lindbergh em Paris, a proeza de Rust (abaixo) foi recebida com frieza em Moscovo... Não tendo sido levado em ombros como o seu longínquo antecessor, Rust foi, apesar disso, objecto de uma dedicada atenção das autoridades locais, tendo sido condenado a quatro anos de prisão - apenas cumpriu 14 meses. O episódio foi também aproveitado como pretexto por Mikhail Gorbachev para sanear a cúpula militar soviética, a começar pelo Ministro da Defesa, o Marechal Sergei Sokolov e incluindo obviamente o Chefe do ramo da Defesa Aérea, o Marechal Alexandr Koldunov, num processo que chegou a ser comparado, apesar do contexto diferente, às purgas de Estaline.
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