
Em qualquer delas um título destacando a assimetria entre Muito Bons e medíocres está lá para despertar indignações. Mas, antipatias à parte, vale a pena tomar em atenção que, sendo os juízes menos de 2.000, como se pode ler na mesma notícia, se está perante uma das elites do país, uma daquelas que resulta de um processo de selecção apertado, um processo que será intelectualmente muito mais exigente do que, para usar o exemplo duma outra elite muito mal vista nos tempos que correm, o da formação dos pilotos da aviação civil… A distribuição das classificações dos juízes, cuja qualificação resulta de um processo de selecção anterior, não podem assemelhar-se à dos exames de português ou matemática dos alunos de uma escola secundária…
Por isso, creio que a crítica implícita na notícia, a de uma classificação globalmente benigna aos juízes, será superficial. O que não invalida que não haja uma outra crítica pertinente ao processo de avaliação deles, no que concerne às notas inferiores. Vem a propósito contar aqui uma conversa que outrora tive a respeito de um médico interno da especialidade de cirurgia que era uma verdadeira lástima. Mas o problema que se punha não tinha propriamente origem nele, mas nos seus avaliadores que, ao longo dos vários anos do internato, o haviam classificando com 10 (o padrão naquelas circunstâncias é de atribuir notas elevadas, de 15 para cima…), até se levantar o dilema da nota final da especialidade e da assumpção da responsabilidade de se lhe atribuir o titulo de cirurgião…

Um grupo de elite, e regressemos agora à questão dos juízes, só tem a ganhar em prestígio com a exigência nos critérios não só de aceder a esse grupo como também a de nele permanecer. Afinal, até na Primeira Liga de futebol se procede à renovação anual do grupo, com a descida dos dois últimos classificados (2 em 16 clubes, ou seja 12,5% do total). E é aí que reside o aspecto bizarro da notícia hoje publicada. Não porpriamente pelo facto de este ano não ter havido juízes com a classificação de medíocre, mas pelo facto de, nos últimos cinco anos e em cerca de 1.000 avaliações de juízes (o que abrangerá, se tiver havido uma rotação criteriosa dos avaliados, metade da classe), ter havido apenas 10 classificações de medíocre – ou seja, cerca de 1% do total… Atendendo ao bom senso, à experiência de vida de cada um de nós, e a tudo o que transparece sobre o estado da nossa justiça, é uma percentagem inverosímil.
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