04 março 2010

O HOMEM QUE NUNCA EXISTIU

Na Primavera de 1943, quando o Alto Comando alemão (OKW) se mostrava hesitante de que forma organizaria o seu dispositivo defensivo para se opor ao previsível desembarque dos Aliados nas costas setentrionais do Mar Mediterrâneo (veja-se acima: Sardenha? Sicília? Itália? Grécia?), os seus serviços secretos (Abwehr) tiveram a sorte de conseguirem obter informações que confirmavam, com uma certeza quase absoluta, aquilo de que Adolf Hitler já suspeitava: que os Aliados iriam desembarcar na Grécia…
Fora um incrível golpe de sorte o da Abwehr, que conseguira ter acesso à documentação transportada numa pasta algemada a um pulso (acima) por um certo Major William Martin, um malogrado oficial dos Royal Marines que tivera o azar de morrer naquilo que parecia ter sido um banal acidente aéreo quando viajava de Inglaterra para Gibraltar, tendo o seu corpo acabado por dar à costa junto a Huelva, no Sul de Espanha. O Major sobrevivera à queda – tinha o colete vestido – mas acabara por morrer afogado (abaixo)…
Os serviços de informações espanhóis apropriaram-se do conteúdo da pasta e não tardaram a cedê-lo aos seus parceiros alemães da Abwehr. O material era importante. A pasta continha cartas pessoais de patentes tão destacadas como o General Archibald Nye e o Almirante Louis Mountbatten em que se confirmavam as suspeitas de Hitler. Mas as cartas só eram verdadeiras no sentido em que haviam sido escritas pelos signatários… que elas continham de importante era falso. Tudo não passava de uma Operação de desinformação.
O Major Martin nunca existira… Tratava-se de um morto anónimo, da idade adequada a um oficial daquela patente, que terá morrido num Hospital de Londres algum tempo antes do seu corpo ter sido encontrado em Huelva¹ e para o qual se criara aquilo que na espionagem se designa por lenda: uma vida imaginária para a qual se arranjam documentos concordantes – como a fotografia de uma namorada. Devidamente fardado, o corpo fora depois levado de uma ambulância (acima) para o submarino HMS Seraph (abaixo).
Fora o Seraph que deitara discretamente o corpo ao mar ao largo de Huelva, contando com as correntes para o levar para a praia. Espanhóis e alemães engoliram o isco, enquanto os Aliados vieram a desembarcar na Sicília em Julho de 1943, não na Grécia. Mas talvez o sucesso mais importante desta Operação Mincemeat foi o de abalar até ao fim da Guerra a confiança da Abwehr sempre que quaisquer situações acidentais a fizeram ter acesso a documentos importantes do inimigo onde ele revelava as suas intenções…
Todo o episódio veio a ser contado posteriormente num livro de 1953 (acima), de onde este poste foi copiar o título: The Man Who Never Was. E três anos depois, o livro veio a ser convertido num filme também com o mesmo título.

¹ O corpo fora óbvia e devidamente preservado durante esse tempo. Existe actualmente uma controvérsia quanto à sua identidade real.

1 comentário:

  1. Esta história parece encaixar, às mil maravilhas, na novela do PSD: 3 corpos à deriva e o PS a engolir o isco.

    ResponderEliminar

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.