O erro mais estúpido que poderíamos cometer seria o de permitir que as raças subjugadas possuíssem armas. A História mostra-nos que os conquistadores que permitiram que as raças que haviam subjugado se armassem provocaram a sua queda por o ter permitido.

A História também nos mostrou que a
coerência entre o discurso e a acção não foi
o forte de Adolf Hitler,
autor das frases acima. As necessidades alemãs durante a Segunda Guerra Mundial fizeram com que a
Wehrmacht e as
Waffen SS se tornassem num dos exércitos mais mesclados que a História alguma vez conheceu, só perdendo em heterogeneidade para os exércitos persas de
Dario e
Xerxes na Antiguidade. A propósito disso, já se escreveu aqui neste
blogue sobre as Osttruppen, as unidades militares criadas sob égide alemã e formadas pelas minorias étnicas do Império Soviético.

Mas o Regimento de Infantaria 950 da
Wehrmacht foi uma unidade ainda mais
exótica do que essas. Era constituída por indianos (e paquistaneses e bengalis) que lutavam ao lado dos alemães e contra os britânicos em prol da independência do seu país – que hoje são três países… O mentor da ideia foi
Subhas Chandra Bose (1897-1945) que foi, com
Gandhi,
Nehru,
Jinnah ou
Patel, um dos principais dirigentes nacionalistas indianos e merecedor do destaque de um
poste futuro neste
blogue, pelo tratamento
discreto que recebeu depois por se ter aliado com o
lado errado durante a Segunda Guerra Mundial…

Uma das ironias desta história é que Subhas Chandra Bose, que os britânicos mantinham sob prisão domiciliar em Calcutá na Índia, só conseguiu chegar à Alemanha depois de se ter evadido em Janeiro de 1941 graças aos bons ofícios da União Soviética que permitiu – a lembrar o que
a Alemanha fez a Lenine em 1917… – que ele atravessasse o seu território. Do seu encontro com Adolf Hitler nasceu a ideia da formação de uma unidade militar que lutasse ao lado dos alemães contra a potência colonial britânica. Os primeiros voluntários eram jovens indianos que estavam a estudar em países europeus…

Eram voluntários entusiasmados mas eram muito poucos. A unidade só recebeu um
reforço significativo em pessoal quando os campos de prisioneiros alemães se começaram a povoar de prisioneiros de guerra indianos capturados pelo
Afrika Korps de
Rommel na Líbia. O número de prisioneiros que, depois de abordados, se mostraram dispostos a baterem-se pela Índia (só que do
lado oposto) superou os 3.000 (um número embaraçoso para os britânicos...) e também os italianos constituíram o
seu próprio Batalhão indiano com os prisioneiros indianos que haviam capturado.

É óbvio que, em Teatros de Operações em que os efectivos se contavam por milhões, a participação do Regimento de Infantaria 950 (também conhecido por
Legião Indiana) na Segunda Guerra Mundial, teve mais importância pelo seu carácter político do que militar. Colocada como guarnição perto da cidade francesa de Bordéus, a unidade – que abaixo se vê a ser inspeccionada pelo mesmo
Rommel que fora
o responsável por tantos dos seus recrutas… – acabou por não participar directamente nos combates que tiveram lugar em França depois dos
desembarques na Normandia, veio a retirar para a Alemanha.

Constituída por uma maioria de muçulmanos (cerca de ⅔), mas formada por uma óbvia motivação política anti-colonial (as subunidades não eram constituídas segundo bases religiosas
¹), o Regimento de Infantaria 950 acabou os seus dias em Maio de 1945, junto à fronteira germano-suíça, com muitos dos seus soldados a tentarem refugiar-se naquele país neutral, mas a serem capturados e a serem vítimas de um dos últimos massacres da Segunda Guerra Mundial, um massacre que foi perpetrado, suprema ironia final, por
soldados coloniais marroquinos (muçulmanos) ao serviço do Exército francês…
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