08 março 2010

AS ANÁLISES ECONÓMICAS DE UM OBCECADO

Vou tentar contar de maneira simplificada uma história que é necessariamente mais complexa. Desde 2005 e até antes, entre os operadores na Bolsa alemã era conhecido o desejo da Porsche SE em aumentar a sua participação no capital da Volkswagen AG. Esses rumores haviam feito com que a cotação das acções da Volkswagem se tivessem vindo a valorizar 77% nos 12 meses anteriores a Outubro de 2008. Subitamente, na última semana do mês, quando os jornais publicaram uma notícia anunciando a intenção da Porsche em adquirir futuramente 75% do capital da construtora automóvel alemã foi uma loucura! – consulte-se o gráfico com a evolução das cotações.

Com a perspectiva de as revender depois à Porsche, o valor das acções da VW chegou a mais do que triplicar em dois dias, chegando a ultrapassar a barreira dos mil euros¹ e fazendo com que a empresa chegasse a ter sido, por algumas horas e pelo critério da capitalização bolsista², a maior empresa do Mundo! Em suma, apesar da Porsche ter vindo desmentir a notícia sobre as suas intenções, terá havido quem, aproveitando-a, pudesse ter triplicado ou quadruplicado o seu investimento num punhado de dias… Nunca se veio a saber se fora esse o caso e, sendo, quem o desencadeara... E vale a pena acrescentar que estas operações se passaram na civilizadíssima Bolsa de Frankfurt e não num qualquer país dos PIGS da Europa…
Mudando de assunto, é óbvio que no Ponto Contraponto, José Pacheco Pereira não pode fazer com que o seu tempo de antena concorra directamente com o de Marcelo Rebelo de Sousa na RTP ou em qualquer outro qualquer canal para onde ele vá. Como figura televisiva, ele não tem nada da comunicabilidade ou da simpatia de ecrã do professor. Ele tem que reciclar aquele seu ar bisonho para apostar na seriedade, mostrando saber do que está a falar, já que está estabelecido que, ouvindo-o, as pessoas sabem que o professor não passa de um aldrabão simpático. Mas se atendermos a uma das peças iniciais do seu programa ontem – a única que vi – não será assim que o filósofo lá vai…

A coisa prendia-se com um projecto de concentração de instalações da PT que havia sido anunciado há coisa de uns dois anos, e a crítica de José Pacheco Pereira dirigia-se à imprensa económica que então embarcara na notícia, notícia essa que o tempo veio a revelar não ter tido seguimento e, deduzia-se ali, não ter passado de um expediente para melhorar a posição contratual da PT face aos diversos senhorios dos imóveis que ocupava (e ainda ocupa). É Marcelo Rebelo de Sousa em todo o seu esplendor… Em primeiro lugar porque, como descrevi mais acima no poste numa escala incomensuravelmente superior, as operações de manipulação da imprensa são coisas banais, dir-se-ia mesmo inerentes a certos negócios…
Veja-se até que uma das vítimas da Operação VW de Outubro de 2008 terá sido um jornal económico com as referências do Financial Times… Em segundo lugar, porque os senhorios dos imóveis de escritórios ocupados pela PT – estou a pensar, para referência do leitor no edifício do Fórum nas Picoas (acima) – serão, na sua esmagadora maioria, empresas especializadas do ramo imobiliário, daquelas que se obrigarão a um grau de profundidade nas suas análises económicas que terão de ser equivalentes às da PT. Não me parece que tenha havido aqui qualquer abuso de posição dominante por parte da PT, contratando com uma senhoria velhota que tira dali um complemento da sua reforma. Quem caiu na coacção gerada pela notícia, caiu por estupidez...

Em terceiro lugar e em termos de racionalidade de negócio, nem sequer haveria a garantia que a ameaça do abandono do imóvel pelo inquilino naquelas circunstâncias se tranformasse uma vantagem negocial para ele: do outro lado, haveria quem pensasse – eu, com a minha formação, pensaria… – que a redução do preço das rendas naquele caso seria irrelevante para a decisão final por parte da PT... José Pacheco Pereira usou no programa o pretexto das notícias plantadas no jornal para falar deste assunto, mas é assunto sobre o qual, visivelmente, nunca percebeu nada. Só ali aparece, na minha opinião, porque o administrador da PT nele envolvido se chama Rui Pedro Soares³ e com isso ele pretender atingir – mais uma vez e de todas as formas e feitios que puder… – José Sócrates.
... E com isso, adeus contenção e adeus competência sobre aquilo de que se fala. Sem ethos, é pathos a pretender passar por logos...

¹ Para estabelecer uma proporção, enquanto escrevo as acções da VW têm estado a ser transaccionadas em Frankfurt a um pouco mais de 70 €…
² É o que resulta da multiplicação a cotação em bolsa da acção pelo número de acções existentes.
³ Convêm esclarecer que tendo a não acreditar na validade de carreiras ascensionais meteóricas como a de Rui Pedro Soares, a não ser nos casos de pessoas geneticamente geniais como Paulo Azevedo, filho de Belmiro ou Francisco Maria Balsemão, filho de Francisco Pinto.

3 comentários:

  1. «Rui Pedro Soares, ex-administrador executivo da PT, desdobrou-se em declarações e iniciativas em 2007 e 2008 para criar no mercado imobiliário a ideia de que a empresa ia centralizar quase todos os seus serviços num único local - projecto denominado Cidade PT. O objectivo, admitiu o próprio ao PÚBLICO, era levar os senhorios dos edifícios de que a empresa é arrendatária em Lisboa "a baixar as rendas".

    A operação, porém, tem um lado especialmente obscuro, que envolve a Taguspark e uma proposta de negócio de mais de 170 milhões de euros dirigida a Rui Soares - que a administração da PT garante nunca ter conhecido.

    A ideia do jovem gestor terá tido óptimos resultados. Rui Soares, que tinha o pelouro do imobiliário na PT e a representava na Taguspark SA, recorda que estava a renegociar os contratos de arrendamento quando deu a primeira entrevista sobre a Cidade PT. Logo a seguir, garante, conseguiu que os senhorios [receosos de perder um cliente de peso] baixassem as rendas, nalguns casos em 50 por cento, com poupanças de milhões de euros anuais para a empresa.»

    http://jornal.publico.clix.pt/noticia/26-02-2010/cidade-pt-foi-lancada-para-baixar-rendas-da-empresa-18880850.htm

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  2. Se não se importa, António da Silva Brandão, embora eles só muito remotamente tenham a ver um com o outro, faça-me o favor recíproco de ir afixar o meu poste à caixa de comentários da notícia do Público a que aqui faz referência...

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  3. Obrigado, meu caro.O "Herdeiro de Aécio" é, na verdade, uma cátedra.

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