28 março 2010

SOLUÇÕES MUITO SIMPLES EM ENTREVISTAS MUITO SIMPLES FEITAS POR JORNALISTAS MUITO SIMPLES

(…) Bastava reavaliar ou renegociar os contratos militares cujas contrapartidas não foram pagas a Portugal. Quem fez negócios connosco está em falta.
- Podia rasgar-se esse contrato?
- Não, tem de se renegociar, foi o que eu utilizei. Nós compramos equipamento militar em três mil milhões de euros e havia contrapartidas de três mil milhões de euros. Neste momento…
- O próprio ministro já disse isso.
- Porque reconheceu a nossa razão a esse respeito! Agora, se os vendedores não executaram a sua parte do contrato, temos de lhe bater à porta e dizer: “Meus amigos, nós comprámos a um preço mais alto que o preço verdadeiro porque nos garantiram contrapartidas.” Devem-nos 2300 milhões de euros! Mais do que 1% do produto…
- E, já agora, como é que chegava a essa poupança dos três mil milhões?
- Mil milhões nos off-shores, renegociar os contratos militares, vender os submarinos – são mil milhões de euros – renegociar as parcerias público-privadas, porque elas implicam 45 mil milhões de euros durante os próximos 30 anos
. (…)
Este é um dos trechos mais importantes da entrevista dada hoje por Francisco Louçã ao Diário de Notícias e à TSF que mobilizaram para a mesma os seus dois directores. O que está em causa neste trecho que transcrevi é, nas próprias palavras de Louçã, saber se há ou não outra forma de consolidação orçamental. E ele diz que sim: uma parte dessa consolidação é a que podemos ler aqui em cima. Que, por acaso, serão soluções que não terão bem a ver com consolidação orçamental, visto abordarem situações circunstanciais e não serem medidas que alterem a estrutura das receitas e despesas do estado. Mas não se trata só disso...

É que da renegociação dos contratos militares com os fornecedores em falta e antes de se lhe exigir a conversão do que está em falta em descontos no preço final, como Louça propõe, há que se exigir em primeiro lugar o cumprimento do contrato em vigor, nomeadamente as cláusulas das contrapartidas. Ora, se os fornecedores preferirem cumprir o que se encontra em falta nos contratos, o cumprimento dessas contrapartidas não terá qualquer impacto directo nas contas públicas ao contrário do que Louçã sugere…

E depois há a questão do preço dos submarinos encomendados por Paulo Portas, que é muito inferior aos mil milhões referidos por Louçã, porque esse valor resulta não só do preço dos próprios submarinos (770 milhões) como da forma como são financiados. Anunciar assim que se vendem parece ser uma ideia expedita mas poderá Louçã adiantar-nos que preço de venda tem em vista e em que países compradores estará ele a pensar¹?...

O que é mais engraçado é que estas aleivosias foram proferidas perante dois jornalistas (João Marcelino e Paulo Baldaia) que são ambos considerados geralmente como pró-governamentais. Mas, pelos vistos, ambos parecem aceitar como válidas para uma consolidação orçamental alternativa algumas inanidades que um estudante de economia atento não deveria ter deixado escapar… Não será que antes da questão do alinhamento político dos dois se deva colocar a da sua competência profissional?

¹ Contando com a notícia que os gregos também estão vendedores de submarinos recém-adquiridos da mesma classe U-214 dos nossos - notícia que Louçã, Marcelino e Baldaia talvez desconhecessem de todo... - percebe-se que a realização de um bom negócio nessas circunstâncias é muito improvável...

5 comentários:

  1. Meu caro Teixeira,
    só muito recentemente vim parar ao seu blog.
    Falta de tempo e de jeito (este colmatado com a ajuda dos filhos) tinham-me longe destas "modernices". No caso deste seu canto, gostei porque me parece honesto na exposição e escorreito na escrita. Continue.
    No caso concreto deste post, estou absolutamente de acordo consigo. Apesar de já ter votado nele, parece-me que Louça às vezes abusa do facilitismo das soluções que propõe, aliadas a um modo de explanação que por vezes roça a arrogância.
    Relativamente aos jornalistas, e independentemente do seu posicionamento político, deviam ter maior acuidade na interpelação a certas respostas, não deixando que passe para o ouvinte (neste caso) propostas que consubstanciem soluções inexequíveis na prática.
    António Marquês

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  2. Se os submarinos fossem vendidos, a preço de saldo, talvez fosse possível incluir no pacote o sr. Paulo Portas.
    Seria um bónus (envenenado)para um eventual comprador.

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  3. Obrigado pelos votos que formula António Marquês, tanto aqui como no seu outros comentário.

    Não é só "às vezes" que Louçã "abusa do facilitismo". É sempre. Parece que é o "animador cultural" de um acampamento de juventude. E por isso é que aqueles dois deviam ter preparado a entrevista como deve ser.

    Como o próprio Louçã afirma, aquelas "propostas da treta" até já haviam sido publicadas. Por isso é que os dois jornalistas já as deviam conhecer e já deviam estar preparados para rebater os disparates...

    Chama-se a isso preparar uma entrevista, chama-se a isso qualidade profissional.

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  4. Será que estes dois jornalistas e ainda por cima directores, não têm estatuto para pertencer aquela galeria célebre já publicada neste blog?

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  5. Não.

    A causa poderá ser nos dois casos a ignorância, mas as pessoas que foram eleitas para essa Galeria a que se refere foram-no pelas afirmações disparatadas que proferiram e não por omissões como terá acontecido neste caso.

    Já aqui tive oportunidade de escrever que, aquela Galeria é de uma certa forma injusta, pois os critérios de nomeação não são sistemáticos nem equitativos: são as "gaffes" de jornalistas que se consideram "de topo" e que eu vou apanhando ou que apanham por mim...

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