16 março 2010

A NOVA BRIGADA DO REUMÁTICO

Na História de Portugal há um momento simbólico de antecipação à transferência de poder de uma geração para outra que virá a ter lugar com a Revolução de 25 de Abril de 1974. O episódio teve lugar há 36 anos atrás (a fotografia acima foi retirada duma edição do Expresso publicada precisamente em 16 de Março de 1974) e consistiu numa apresentação de cumprimentos (há quem o qualifique de beija-mão...) ao Presidente do Conselho Marcello Caetano por todas as altas patentes militares. Os vencedores do 25 de Abril baptizaram depois os intervenientes nesse episódio de Brigada do Reumático e nunca se cansaram de evocar a substituição geracional produzida pela Revolução, como o fez Otelo Saraiva de Carvalho no vídeo abaixo:
Porém, fazendo as contas, na época dos acontecimentos Marcello Caetano tinha 67 anos e o General Paiva Brandão, que era o oficial general mais antigo da Brigada e que por isso falou em nome dela, tinha 61. Entre os grandes ausentes dessa cerimónia, Francisco Costa Gomes tinha 59 e António de Spínola 63 anos. E mesmo Jaime Silvério Marques, que vemos no vídeo acima a presidir à cerimónia da graduação de Otelo em Brigadeiro e a engolir com um sorriso amarelo o discurso irónico do empossado, tinha à data 60 anos. É bem verdade que, desde aquela época para cá a longevidade aumentou, mas confesso-vos que ontem dei por mim a associar a tal efeméride dos generais com os convidados mais em destaque do programa Prós e Contras.
É que o programa teve por tema Novos Horizontes, mas a produção entendeu por bem dar destaque às presenças nele de Eduardo Lourenço e de José Gil. Ora vale a pena recordar que ainda recentemente foi notícia a última aula do segundo, quando se reformou por ter atingido o limite de idade de 70 anos. Quanto a Eduardo Lourenço, tem 86 anos. Não estará de todo em causa o mérito das suas obras, mas é de duvidar delas serem inéditas, essenciais num programa que pretendia olhar para horizontes novos… Simbolicamente, a dada altura, Eduardo Lourenço afirmou, que 50 anos atrás uma potência europeia (a Alemanha) declarara guerra ao Mundo. Ora a Segunda Guerra Mundial começou em 1939 – há 70 anos
Por caso, os 20 anos do lapso, poderão tornar-se uma boa estimativa do tempo transcorrido depois da componente inovadora da obra de Eduardo Lourenço se ter acabado… Mas a culpa será nossa se, para além de as venerar como elas decerto merecerão, continuarmos a levar estas figuras a sério... O seu tempo já passou. Não só no campo da filosofia, como também no da política nacional (Mário Soares – 85 anos), do cinema (Manoel de Oliveira – 101 anos), da literatura (José Saramago – 87 anos), da política internacional (Adriano Moreira – 87 anos) ou da economia (Medina Carreira – 79 anos e Silva Lopes – 77 anos). Será um paradoxo se o regime saído do 25 de Abril caia no impasse intelectual de uma nova Brigada do Reumático

3 comentários:

  1. Só aqui neste post acabaste de desenhar um paradigma das ultimas décadas. As gerações sucedem-se na luta, conquista e manutenção do POder.Não dão nada a qem chega e tentam tirar tudo a quem parte. E nós (ge,ge) ursos acossados pelos ventos da História, por opção ou condenação, andámos uma vida inteira a "ver a banda passar". Quem não toca a música da pauta instalada não entra na orquestra. Eis (mais uma) a Geração do Vazio. Sem intervenção nem responsabilidades. Apenas certa e segura do que não queria. Achei que devia dizer isto...

    ResponderEliminar
  2. Atenção ao que se escreve. Na cerimónia de graduação em brigadeiro do major Otelo Saraiva de Carvalho, foi o general JAIME Silvério Marques que presidiu e, aliás, nem engoliu - porque ripostou - a ironia de Otelo. Assisti a isso pela TV. O texto confunde o general com o irmão, o gen. SILVINO Silvério Marques, que era, à data, o último Governador-Geral de Angola, para lá mandado pela Junta (de "Salvação Nacional") e que foi substituído pelo inefável Rosa Coutinho, o "almirante vermelho", já na qualidade de Alto Comissário.

    ResponderEliminar
  3. Tem factualmente toda a razão: trata-se de facto de Jaime e não de Silvino Silvério Marques, e já corrigi (endossando-lhe os meus agradecimentos) o texto. Quanto à questão substantiva do “poste”, a das idades dos intervenientes, se Silvino tinha 56 anos à data dos acontecimentos, o seu irmão mais velho Jaime tinha 60, o que não contraria, aliás acentua, aquilo que quero frisar. Quanto à resposta de Jaime Silvério Marques, que me desculpe, mas ele há situações que não têm escapatória possível: quando o general de 4 estrelas responde ao major acabado de graduar no mesmo plano, é porque em termos hierárquicos está tudo f*dido.

    ResponderEliminar