07 dezembro 2020

AS PROEZAS ESPACIAIS PERDEM TODO O SEU ENCANTO MEDIÁTICO SE NÃO HOUVER FOTOGRAFIAS

7 de Dezembro de 1995. Como estava previsto, a sonda espacial Galileu mergulha na enorme atmosfera joviana para recolher os primeiros dados directos sobre a sua natureza. Pesando somente 340 kg, a sonda fora concebida para suportar as condições mais extremas a que a tecnologia poderia responder, embora se admitisse que o material haveria de colapsar algures no decurso da descida. Mas a própria sobrevivência da sonda era um dos parâmetros da experiência. No final, a sonda aguentou-se durante quase uma hora (57:36) enquanto descia por 156 km da atmosfera de Júpiter, enquanto enfrentava ventos com velocidades superiores a 600 km/h (a comparar com os 250 km/h dos piores ciclones na Terra...). Na sua última transmissão, a sonda deparava-se com uma pressão de 22 bars e 156º C (o que era até menos extremo do que as Veneras 5 e 6 dos soviéticos haviam encontrado na primeira vez que entraram em Vénus). Mas o que era tolerável em 1969 no âmbito da corrida espacial deixara de o ser em 1995, quando a Guerra Fria já terminara. Não havia fotografias! Muito provavelmente, os investigadores que montaram os aparelhos de pesquisa não contavam que houvesse alvos na atmosfera joviana que merecessem a instalação de mais aquele recurso (em detrimento de outros instrumentos de medição...), mas a verdade é que, nos tempos que correm, sem fotografias - da superfície de Titã, de Plutão, seja do que for - não há proeza espacial que consiga obter o seu destaque mediático apenas pelo poder da palavra. Este é um caso típico de uma dessas missões, relativamente esquecida, porque lhe faltam adereços que a tornem mais memorável.

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