Ainda a propósito da madrugada televisiva que acompanhou o início da Guerra do Golfo, a invocação acaba por se tornar pretexto para regressar aos protagonistas, uns já desaparecidos (Virgílio de Carvalho), outros discretos (Manuel Menezes), os outros ainda activos e mais proeminentes, como José Rodrigues dos Santos e Nuno Rogeiro. Nem de propósito, calhou que no trecho do arquivo da RTP para onde linkei, e logo no primeiro minuto do vídeo, aparece o último dos referidos (Nuno Rogeiro) a abrilhantar-se naquilo em que a guerra o popularizará: nas referências desenvoltas aos equipamentos de combate e no conhecimento pormenorizado das suas especificidades técnicas (alcance dos mísseis, tectos de actuação dos aviões, sistemas de armamento das fragatas)... Citemo-lo numa passagem em que se refere a uns aviões de construção soviética tratando-os por tu:
«- ...e se tiver intactos alguns aviões, nomeadamente os SU-24, os Fencer, usá-los também. Eu devo lembrar que esses aviões SU-24 foram considerados há cerca de dez anos, os aviões mais perigosos que a União Soviética tinha para ameaçar a NATO, porque são aviões do tipo dos F-111, podem voar baixo e podem ser armados com misseis de longo alcance. O grande problema do Iraque é que só tem (segundo se crê) menos de dez SU-24. Mas se os tiver intactos ainda poderá fazer alguns estragos. Agora tenho a impressão que tudo o que vier a fazer a partir de agora são estragos simbólicos.»
O escrutínio dos trinta anos transcorridos não é nada abonatório para as avaliações de Nuno Rogeiro. À época, o SU-24 era um daqueles aviões de combate soviéticos sobre o qual se especulava imenso, conforme se comprova pelas páginas (acima e abaixo) que lhe eram dedicadas num manual publicado na época (1986), que eu ainda guardo cá em casa. Como é muito frequente naquele meio, na dúvida, atribuíam-lhe capacidades técnicas que o avião não teria. Quando ao emprego que os iraquianos deram aos 30 SU-24 que possuíam, inseri por debaixo da fotografia de Rogeiro aquilo que a Wikipedia contém a esse respeito: 24 deles foram evacuados para o Irão (que ficou com eles); outros 5 foram destruídos no solo e só 1 último sobreviveu. Ao contrário do que Rogeiro anunciava, os SU-24 não fizeram quaisquer «estragos», nem, pior, parece ter havido sequer intenção que os fizessem, ao fugirem para o Irão... Claro que aqui se aplica como uma luva o ditado que estabelece que «em terra de cegos quem tem um olho é rei», e ele era ali insubstituível naquelas circunstâncias para aquele género de comentários, mas convém nunca se perder de vista que Nuno Rogeiro é um daqueles caolhos que esconde a cegueira parcial atrás de umas magníficas armações...
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