30 setembro 2020

« - EU SOU UM CRENTE EM VACINAS»

«- Eu sou um crente nas vacinas» (I'm a believer in vaccines). 125 anos, contados quase dia por dia, após a morte de Louis Pasteur (para quem não saiba, foi o descobridor da vacina contra a raiva), um americano normal, interveniente num programa nacional da CNN, coloca a questão da vacinação nos domínios da Fé e da Religião: haverá os crentes como ele, e os que não acreditam nas propriedades curativas das vacinas. E o crente em questão, que se chama Dan Carter, vive no Connecticut e é um votante em Donald Trump, apesar de ter ficado recentemente desempregado, sente-se mesmo na obrigação de se justificar, talvez por causa da sua sofisticação, quando em comparação com os outros cinco membros do painel do programa: ele gozou de assistência médica («healthcare») durante os últimos catorze anos, «por isso é um crente em vacinas». Acessoriamente, é o único que se disponibiliza (e moderadamente...) a ser inoculado com a futura vacina contra o vírus da covid-19. Mas o meu espanto não se ficou por aí: seguem-se as explicações dos outros participantes do programa sem que a sua moderadora, Alisyn Camerota, se tivesse sentido na necessidade de moderar as justificações mais intuitivas com alguma dose de crítica científica. Podiam fazer isso, mas não interessa fazer isso, que fazê-lo podia enxotar parte da audiência. Estes programas são, para mim, muito mais instrutivos do que a grande maioria das análises que se vêem por aí, a respeito da sociedade americana. Só assistindo a estas exibições de povo americano é que se pode perceber Donald Trump: ele não emerge propriamente do nada.

COISAS GIRAS (E NÃO MUITO VERDADEIRAS) QUE SE ESCREVIAM HÁ QUARENTA ANOS

30 de Setembro de 1980. As eleições legislativas portuguesas aproximavam-se a passos largos (seriam no próximo Domingo, 5 de Outubro) e o Diário de Lisboa publicava um editorial onde se defendia das acusações do engajamento excessivo que demonstrara para com os comunistas ao longo da campanha e pré-campanha eleitoral que agora estava quase a terminar: «A posição de um jornal independente perante a campanha eleitoral para a renovação da Assembleia da República parece não ser compreendida por certas entidades e suscitar algumas dúvidas, e quiçá protestos, de parte de forças políticas que se sintam eventualmente desfavorecidas. Todavia a informação não pode ser igualitária, a não ser que abdique de ser responsável.» Contudo, tudo levava a crer, com uma boa dose de ironia, que as «certas entidades» e sobretudo «as forças políticas desfavorecidas» a que o autor do editorial se referia não seriam os esperados membros da Aliança Democrática (então no poder) que o leitor mais distraído concluiria, mas os socialistas que, naquelas eleições, concorriam numa coligação denominada FRS (Frente Republicana e Socialista). De facto, e desde o primeiro dia da campanha (aprecie-se abaixo a edição do mesmo Diário de Lisboa de 15 de Setembro), que o jornal se esforçara por patrocinar a campanha dos comunistas enquanto elegia a aliança da direita como o grande inimigo a abater. Porém, nesse processo, os socialistas eram contornados e ignorados - repare-se abaixo, como não há espaço para a FRS na primeira página da edição do primeiro dia da campanha! (A primeira fotografia era da APU, a coligação comunista que o jornal endossava, a segunda era da AD, a coligação direitista que o jornal elegera como a adversária a derrubar, e a terceira fotografia era do presidente Eanes, já não tinha nada a ver com a campanha) Era apenas o prelúdio de um padrão de tratamento ao longo de toda a campanha. Aos direitistas não os surpreendeu serem eleitos os inimigos de estimação. Aos socialistas surpreendeu-os serem remetidos noticiosamente para uma posição subaterna.
Como já aqui eu referira ainda há menos de dois meses, se os objectivos negativos dos comunistas eram retirar a maioria parlamentar absoluta à direita, os seus sonhos secretos, pela positiva, eram, mais do que o aumento, conseguir ultrapassar a votação e a representação parlamentar dos socialistas. E, nesse aspecto, aquilo que se observava pela cobertura noticiosa do Diário de Lisboa, demonstrava como eles, no jornal, estavam sintonizados com os objectivos comunistas. Objectiva e subjectivamente, como eles, comunistas, tanto gostam de classificar as condições na sua linguagem de calão, o Diário de Lisboa não era um jornal de esquerda, em prol da esquerda, era um jornal sectário, alinhado com os comunistas, à esquerda da esquerda. O que, desagradando aos socialistas, não era propriamente uma revelação... Mas perante as manifestações desse desagrado pelos socialistas (que se sabem, mas não se lêem no jornal), o editorial de 30 de Setembro prossegue, com a tónica insistente no facto de serem «um jornal livre e independente». E que sabem «resistir às pressões e às solicitações. E, também, às ameaças.» Os socialistas nunca perdoaram e confinaram o Diário de Lisboa a um gueto, considerando-o uma versão vespertina de O Diário (um outro jornal, matutino, ainda mais engajado aos comunistas). Quanto ao conteúdo do editorial, aquele é uma conversa velha de 40 anos, mas chega a ser divertido vê-la agora reencenada à vezes, embora do outro lado do espectro político e com a autoria conhecida de José Manuel Fernandes, quando o lemos a tentar defender os malabarismos do Observador. As mentiras descaradas são intemporais e nunca tiveram uma ideologia preferida.

29 setembro 2020

POIS ENTÃO, NÃO SE ESTÁ MESMO A VER?!...

Regresso a um tema caricato já aqui tratado por mim há dois meses: o programa de pesquisa espacial interplanetária dos Emirados Árabes Unidos. Que é uma paródia. As sondas árabes vão para Marte e para a Lua, muito embora sejam desenvolvidas e montadas nos Estados Unidos. Os lançamentos são feitos com foguetões japoneses e de bases situadas no Japão. No programa, os cientistas emiradenses quase não existem, onde há uma profusão de emiradenses é na parte das relações públicas... Quanto aos portugueses, jornalistas, como já aqui o ridicularizara há dois meses, abocanham acriticamente esta história das proezas espaciais com isco, anzol e chumbada de pesca. Com uma particularidade engraçada no caso do Observador (acima). A sua notícia de hoje inclui a imagem de um esclarecedor tweet de sua alteza, o xeque Mohammed bin Rashid Al Maktoum. Que, para mim e para qualquer leitor comum daquele jornal, é tão perceptível quanto a conta de restaurante apresentada como credencial na cena abaixo.

O DRAMA DA B.B.

29 de Setembro de 1960. Pelo destaque noticioso que lhe é dado, avalie-se a angústia gerada pelo facto de Brigitte Bardot ter tomado uns comprimidos a mais. Com esta referência, eu desejaria que houvesse mais moderação nas críticas que aqui nas redes sociais se formulam à superficialidade dos programas televisivos actuais. A coisa em si não é assim tão típica da actualidade; apenas a ressonância do ultraje de rede social o é.  

28 setembro 2020

A MORTE DE GAMAL ABDEL NASSER

28 de Setembro de 1970. Subitamente, quando o mundo árabe está mergulhado na crise do «Setembro Negro» (já em vias de conclusão), dá-se a morte inesperada de Gamal Abdel Nasser, o líder carismático desse mundo árabe então dividido pela disputa jordano-palestiniana. Mas, mais do que invocar o episódio, recordo-o. E recordo-o por causa das imagens que a televisão nos fazia chegar do Cairo e do resto do Egipto, de manifestações ostensivas de «pesar e consternação», que eu não podia deixar de comparar com o que acontecera à televisão dois meses antes, por ocasião da morte de Salazar. Essas outras, insuportavelmente soturnas, eu apercebera-me que haviam sido muito forçadas, e estas agora, ainda mais teatrais, faziam-me fermentar ainda mais a dúvida de que aquilo que passava na televisão, mesmo o vindo «lá de fora», era mesmo assim como era mostrado.
Adenda: Décadas depois vim a compreender que algumas daquelas manifestações de dor mais extremadas até podiam ser genuínas, como resultado de sociedades em que a propriedade colectiva dos meios de informação tornara doentes no endeusamento dos governantes. Sociedades que, como bem recordou em certa altura o presidente da Câmara de Loures, suscitavam dúvidas quanto à sua natureza, nomeadamente a de ele não ter a certeza se não seriam democráticas...

27 setembro 2020

A ASSINATURA DO PACTO TRIPARTIDO

27 de Setembro de 1940. Assinatura em Berlim do Pacto Tripartido, congregando a Alemanha, a Itália e o Japão. Se as duas primeiras potências já estão envolvidas na Segunda Guerra Mundial, o Japão ainda permanece neutral, mas pretende aproveitar-se da guerra em curso para uma revisão das condições estabelecidas na ordem internacional em seu benefício. Entre as restantes potências, França, Reino Unido, Rússia, Estados Unidos, só mesmo estes últimos estão em condições de os deter e, nesse sentido, a assinatura deste Pacto é uma coligação (negativa...) tendo nitidamente, um visado: os Estados Unidos. É nestas ocasiões que o exercício de imaginar a reacção americana, comparando quem ocupou a Casa Branca com quem actualmente a ocupa, resulta arrepiante.

O EXÉRCITO ITALIANO NA FRENTE LESTE NA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

A respeito da Segunda Guerra Mundial escreveram-se bibliotecas. E, no entanto, quanto à distribuição dos títulos por temas, há os temas favoritos (centenas de títulos), os temas obrigatórios (dezenas) e os outros, os quase omissos. Como já aqui referi, conhecer o que aconteceu nos países beligerantes menores, menos tradicionais (no caso, a Finlândia e a Hungria) ou então nos países neutrais (no caso, a Irlanda), torna-se difícil porque o que há publicado a respeito circunscreve-se a alguns, escassos, títulos. E depois, há ainda a questão da barreira linguística. Conhecer o que aconteceu ao VIII exército italiano na Frente Leste não é um tema com fashion. E é, por isso, difícil encontrar livros a esse respeito, escritos em idiomas que possamos ler, como é o caso acima, publicado em 2018. Militarmente, o comportamento dos (até) 235.000 homens que chegaram a compor o VIII Exército estará longe de ser brilhante, nomeadamente quando cederam diante da Operação Pequeno Saturno em Dezembro de 1942, uma ofensiva russa destinada a consolidar o cerco ao VI Exército alemão em Stalinegrado. Como acontece sempre nestas ocasiões (e nós sabemo-lo por experiência própria no caso de La Lys, noutro local e noutra guerra), os aliados mais poderosos - no caso, os alemães - são sempre lestos em atribuir aos seus aliados mais fracos, as culpas pelo colapso colectivo da frente de batalha. Aqui aconteceu precisamente o que se esperaria: para a versão histórica dominante, a culpa de não se conseguir aguentar a extensíssima frente que cobria o avanço sobre Estalinegrado repartiu-se por romenos, húngaros e italianos, embora as tropas alemãs se tivessem comportado precisamente da mesma maneira. Mas o mais importante é a tragédia associada aos acontecimentos: sensivelmente ⅓ dos italianos que estiveram engajados na Frente Leste vieram a morrer, 55.000 no cativeiro.

26 setembro 2020

A ENTREVISTA DO EMBAIXADOR: QUANDO SE TENTA AGARRAR UM SABONETE MOLHADO COM DEMASIADA FORÇA, ELE TENDE A SALTAR-NOS DA MÃO...

Um daqueles aspectos que é sempre importante esclarecer quando se fala de embaixadores norte-americanos é que naquele país não existe uma carreira diplomática tradicional como acontece com quase todos os restantes. Numa maioria das vezes os cargos de embaixador dos Estados Unidos não são ocupados por um diplomata experimentado no final da carreira, são antes conferidos pelos presidentes em exercício como agradecimento àqueles que mais contribuíram com fundos para a sua campanha eleitoral. Poderá parecer absurdo, mas é assim. E, por ser assim, as características dos embaixadores americanos, especialmente os menos escrutinados e colocados em países de segundo plano como é o caso de Portugal, podem revestir-se de um exotismo não muito comum para a imagem convencional do embaixador. Evidentemente que os profissionais das diplomacias sabem isso, os jornalistas não, ou, sabendo-o, esquecem-se de o referir, para que o leitor possa compreender que os embaixadores dos Estados Unidos (não o restante pessoal do departamento de Estado, que esse é tão profissional quanto os seus homólogos), os embaixadores dos Estados Unidos, escrevia, são uma classe à parte, para levar moderadamente a sério... e quando calha. Assim, o antecessor imediato do actual embaixador, Robert Sherman, nomeado para o cargo pela administração Obama, ganhou uma excelente reputação doméstica mercê de alguns inteligentes gestos de relações públicas... como motard e como apoiante da selecção portuguesa. Em contraste, os seus antecessores da era de George W. Bush, Al Hoffman Jr. ou Thomas Stephenson, adquiriram uma reputação bem pouco simpática ao porfiarem anos a fio para que a Marinha portuguesa lhes comprasse umas fragatas da classe Oliver Hazard Perry, fragatas essas que a US Navy estava a saldar por causa dos seus custos proibitivos de funcionamento (documentos depois vazados pelo «WikiLeaks» vieram a dar conta do desagrado e do despeito dos americanos por não termos aceite o negócio). Mas deve ser tendo tudo isto presente que deve ser lida esta entrevista que é dada hoje ao Expresso pelo actual titular do cargo, George Edward Glass. Entendamo-nos num ponto essencial: a entrevista não é um furo do jornal, a iniciativa terá partido da embaixada, embora não propriamente do embaixador: dá para perceber pelo vídeo abaixo que a desenvoltura do embaixador com a comunicação social será... nenhuma: é notória a dificuldade que ele tem de desviar o olhar do teleponto (que está em cima da câmara) para o fixar no espectador - até a embaixatriz tem mais jeito do que ele... Washington quer exibir uma imagem pública de coacção sobre o governo português e utilizou o Expresso; a entrevista é para ser levada à conta daquilo em que consiste: um recado ostensivo (o governo americano poderia dizê-lo recatadamente, nos gabinetes, como quando nos andava a impingir as fragatas que ninguém queria). E esse recado público é apenas parte de um esforço colectivo análogo, desenvolvido pelo departamento de Estado dos Estados Unidos. Ainda o mês passado podia ler-se o homólogo de Glass em Bucareste a passar um recado equivalente à Roménia. E no mês anterior, fora o embaixador americano em Brasília a fazer o mesmo.
Colocado nesta última perspectiva, a entrevista de George Glass é apenas mais uma de muitas, de cariz ameaçador, que os americanos andam a distribuir pelo mundo fora em reacção à expansão económica chinesa. É irónico que, sendo os Estados Unidos o defensor da livre escolha do capitalismo, agora intervenham a condicionar as escolhas a que as leis do Mercado possam conduzir. À entrevista do embaixador americano em Lisboa já o ministério dos Negócios Estrangeiros português, entretanto, deu resposta. Previsível. Mas, se a atitude dos americanos é precisamente a mesma, quando em comparação com o comportamento da absurda política externa desta administração, já o é muito menos quando a comparamos com os tempos históricos da segunda metade do Século XX e da Guerra Fria, quando os Estados Unidos eram mesmo a superpotência dominante e, apesar dos seus mais que evidentes desagrados com o comportamento das autoridades portuguesas, fosse ele a política colonial de António de Oliveira Salazar ou os caminhos para o socialismo de Vasco Gonçalves, se abstinham de lavar ostensivamente a roupa suja dos seus desentendimentos connosco em público. Embora naquelas décadas tivessem disposto de paus muito mais dolorosos dos que aqueles que dispõem na actualidade, sempre houve o cuidado da parte americana em exibirem preferencialmente as cenouras. Esta mudança de atitude só pode ser entendida como um sinal de fraqueza - e provavelmente é um sinal de fraqueza. Finalmente, há que não esquecer os efeitos da globalização: há trinta, quarenta anos, não nos era indiferente, mas não era também decisivamente importante se o embaixador americano financiara a campanha de Ronald Reagan ou a campanha de Bill Clinton. Ora George Edward Glass contribuiu financeiramente para a eleição de Donald J. Trump. Donald Trump! Quando aqui há seis meses o li a «assinar» um artigo no jornal Público com o título «Covid-19: vamos unir-nos para combater esta doença – e combater também as mentiras», ocorreu-me de imediato: combater as mentiras? Está a pensar em alguém em particular?...

BOLETIM DE UM DIA COM DUAS HORAS E MEIA DE EMISSÃO TELEVISIVA

Página das trivialidades de um vespertino lisboeta de 26 de Setembro de 1960. Entre as farmácias de serviço e o horário das marés, as programações dos lazeres, teatros e cinemas, rádio e televisão. Se prestarmos mais atenção ao que esta última propunha, lê-se que a programação começava às 20H30 e que encerrava por volta das 23H00. Duas horas e meia de emissão total diária ao serão. Evoluiu-se muito nestes últimos 60 anos.

O PRIMEIRO GRANDE DEBATE PRESIDENCIAL NA TELEVISÃO


26 de Setembro de 1960. Há sessenta anos nos Estados Unidos assiste-se pela primeira vez a um debate televisionado entre os dois candidatos à eleição presidencial que viria a ter lugar em Novembro daquele ano. Emitido a partir de Chicago, perante uma audiência que as notícias do dia seguinte estimavam em 80 milhões (abaixo), enfrentaram-se o vice-presidente republicano Richard M. Nixon e o senador democrata John F. Kennedy. O novo meio audiovisual alteraria a coreografia das aparições públicas dos candidatos para sempre. Diz-se de quem seguiu o debate, que entre quem o seguiu pela rádio, a maioria se inclinou a atribuir uma vantagem a Nixon, mas que entre os que o seguiram com imagem pela televisão (que fora a maioria), a percepção é que Kennedy saíra com vantagem. Entre outros pormenores que então pareciam irrelevantes, Richard Nixon recusara maquilhar-se, o que lhe dava uma imagem pálida e adoentada nos close-ups da imagem a preto e branco no ecrã.

UM DITADOR CUBANO EM NOVA IORQUE

26 de Setembro de 1960. Fidel Castro discursa na assembleia geral da ONU acompanhado de uma cobertura jornalística completamente distorcida. A História é implacável nos seus julgamentos: um ditador é um ditador, por muito que a propaganda e uma certa pretensiosidade intelectual pretenda que o não é.

25 setembro 2020

UMA ORDEM INTERNACIONAL DESCONSTRUÍDA

Está tudo errado na ordem internacional vigente, quando lemos uma notícia como esta acima e não conseguimos imaginar Donald Trump a apresentar um pedido de desculpas semelhante, mesmo se o seu país fizesse uma asneira das grossas. Nas histórias das relações internacionais, e como explicação sucinta daquilo em que consistia (e consiste) a hegemonia americana, costuma mencionar-se uma conversa, já com uns 80 anos, em que intervém Franklin Roosevelt, o 32º presidente dos Estados Unidos (1933-45), avaliando um ditador de uma das repúblicas latino-americanas: « - É um filho da puta? Até pode ser um filho da puta, mas é o nosso filho da puta!». Tudo muda, quando o filho da puta em questão é o próprio sucessor de Franklin Roosevelt... Se os americanos não se importam de proteger os filhos da puta dos outros países, a esmagadora maioria destes últimos só com muita relutância se dispõe a aturar o filho da puta que os americanos elegeram.

BEATRIZ COSTA APRESENTA-SE EM ESTREIA NO TEATRO VARIEDADES EM «O CAVAQUINHO»

25 de Setembro de 1930. A gentil «divette» Beatriz Costa, como a designa o Diário de Lisboa. Abaixo, uma das canções da peça.

A CAMPEÃ OLÍMPICA MOÇAMBICANA

25 de Setembro de 2000. Maria Mutola vence a prova dos 800 metros dos Jogos Olímpicos de Sidney. Torna-se assim na primeira - e, até agora, única - campeã olímpica moçambicana, feito tanto mais notável quando o título foi alcançado numa das modalidades com maior projecção mediática dos jogos - o atletismo. Como acontecia com o caso parecido da checa Jarmila Kratochvílová, eu sempre tive uma simpatia por estas atletas feias e másculas, sem qualquer charme e por isso predestinadas a não cair nas simpatias do público. Apetece ironizar: não são patinhos feios, são patinhos muito feios. Acresce a essa minha simpatia intuitiva, que Maria de Lurdes é de Lurdes mas só com um u, e que, sobretudo, é moçambicana. Torci por ela como se fosse portuguesa.

24 setembro 2020

DEPOIS DA COCA, AGORA É O COVID

Segundo notícias particularmente interessantes e inovadoras, no aeroporto de Helsínquia estão a experimentar um novo processo de detectar passageiros portadores de covid recorrendo a cães que os farejam à chegada. Segundo se lê na notícia, o cão consegue farejar o vírus logo em dez segundos e o grau de precisão do diagnóstico do cão aproxima-se dos 100%. A sério?... A sério, a notícia esclarece depois que os cientistas não fazem a mínima ideia do que é que os cães farejariam para conseguirem distinguir uns de outros; e alvitrando que há um estudo francês que estabelece que o suor dos infectados com covid poderá ter um odor diferente do das pessoas saudáveis - mas ele não há estudos sobre o covid que justifiquem tudo e o seu contrário? Talvez por isto ter aparecido num daqueles países frugais, ninguém se atreve a sugerir que, ou a ideia é brilhante como os telemóveis da Nokia, ou então arrisca-se a ser muito estúpida. E daí, afinal de contas, se já somos revistados, temos que deixar as tralhas que apitam nos tabuleiros, fazer figuras tristes de calças em baixo, sem cintos nem sapatos com fivelas, que diferença faz mais um cão a cheirar-nos a sudação das partes?

AS TRÊS CHAGAS DA DEMOCRACIA PORTUGUESA... E AQUELA «PEQUENA EQUIMOSE» A QUE OS JORNALISTAS NUNCA SE REFEREM

Esta é a crónica de hoje de João Miguel Tavares no Público. Anexei-lhe o primeiro parágrafo para me dispensar de reescrever em que consiste o tema. A acusação é, não só justa, como tremenda, apesar do autor pretender fugir a esse qualificativo um pouco mais adiante - «...se falo numa falência moral e política do regime, não o faço pelo gosto do tremendismo...» Contudo, se, e como se pode ler mais adiante, «...o problema da corrupção chegou ao topo das três pirâmides que sustentam qualquer Estado: o poder político, o poder económico e o poder judicial», suponho que algo terá ficado por dizer naquela interessante crónica, durante uma boa meia dúzia de anos que precedem os três que ali são enfatizados (2017-20), a respeito do comportamento e das competências do quarto poder, o poder da corporação a que João Miguel Tavares pertence, o jornalismo. 
Tivessem sido intimidados por José Sócrates, comprados por Ricardo Salgado (acima), ou então protegidos por uma teia burocrática neste caso mais recente de Rui Rangel, são logo três grandes casos em que algo terá ficado por denunciar prévia e preventivamente por parte dos colegas de João Miguel Tavares quando as coisas estavam a acontecer vários anos antes, e qualquer dos casos só chegou ao conhecimento da opinião pública depois de muito coçado, no estado da tal chaga a que se refere o título da crónica. Em oportunidade, em qualquer dos processos citados, o comportamento colectivo da classe dos jornalistas deixou imenso a desejar. E João Miguel Tavares, tendo falado do que corrói o poder político, o económico, o judicial, esqueceu-se de falar do que corrói o poder da sua corporação. Que, mesmo não sendo uma chaga, também não é aquela equimose ligeira que se depreenderia, considerando a sua omissão. Eu só me dispus a publicar esta nota crítica porque, muito de quando em vez, João Miguel Tavares até se dispõe a desfardar-se, e consegue apreciar o trabalho dos seus colegas como se de um civil se tratasse: lembro uma Carta aos Jornalistas de Economia (Por que raio andaram tão distraídos ao longo dos últimos anos?), publicada em Agosto de 2016. Pois eu creio que ele poderia repor esta última pergunta, agora a respeito da corrupção do poder político e do económico e do judicial em Setembro de 2020. Ninguém tinha dado por nada: nem com Sócrates? Nem com Salgado? Nem com Rangel?

A UNIÃO SOVIÉTICA ADOPTA A ECONOMIA «DE MERCADO»

24 de Setembro de 1990. A notícia do dia é que o Soviete Supremo da União Soviética aprovou a transição da economia de um modelo socialista para um modelo «de mercado» (capitalista, na terminologia comunista canónica). Como um se fosse um grandioso Götterdämmerung (crepúsculo dos deuses...), o Diário de Lisboa que, desde 1974, se tornara num dos maiores paladinos da causa comunista entre os jornais portugueses, dedica um substancial espaço das suas quatro primeiras páginas a essa decisão que reforça, de uma outra forma, o colapso da ideologia (marxista-leninista) e do Império (soviético). Apetece citar o verso de Fernando Pessoa, apesar de um outro contexto: (Malhas que o Império tece!). Mas esse crespúsculo dos deuses pode ser ainda mais plúmbeo. Num último requinte de ironia, na primeira página dessa mesma edição do Diário de Lisboa, aparece a notícia de que a direcção do jornal apresentou a demissão. Na carta em que o fizeram, há uma passagem que se pode ler nessa notícia e que reputo de significativa de tudo o que fora a condução do jornal: «Não é razoável pretender recuperar em três meses um jornal cuja imagem se deteriorou ao longo de dezasseis anos.» (i.e., desde 1974...).

23 setembro 2020

O DELÍRIO ABSURDO NO DISCURSO POLÍTICO

Na América de Trump, os discursos do presidente raiam sempre o absurdo e a demissão da comunicação social em denunciar esse absurdo, logo desde o momento em que é formulado, na escolha dos títulos da notícia, por exemplo, tende a torná-la cúmplice do delírio em que se tornou a governação dos Estados Unidos. Aquilo que assistimos acima - Trump diz que evitou cenário de mais de 2,5 milhões de mortos nos EUA - é um governante a dissociar-se das suas responsabilidades, invocando um hipotético cenário (2,5 milhões de mortos) que ele nem sequer explica em que circunstâncias ocorreria. Ele não explica, mas também não se lhe consegue perguntar. E, se se lhe chega a perguntar, ele também não responde. E, não respondendo, mesmo que haja quem insista na pergunta, ele inventa outro delírio novo para que o primeiro seja descartado. Por exemplo, Trump também poderia dizer que evitou cenário de mais de 250 milhões de mortos nos EUA. Bastou-lhe não ter desencadeado a III Guerra Mundial Mas, absurdo por absurdo, quererá Trump que os americanos lhe agradeçam por a não ter declarado?... Tem vezes em parece que só a argumentação absurda é eficaz contra a sua própria espécie. Donald Trump faz lembrar o tenente Frank Drebin nesta cena abaixo de «Aonde Pára a Polícia?»: Foi ele que estacionou descuidadamente o carro, foi ele o responsável por todos os estragos que o automóvel negligentemente estacionado veio a causar, mas é ele o primeiro a perguntar, de forma ostensiva e indignada, se alguém tirou a matrícula ao (seu...) carro, se alguém vira quem o conduzia? E depois, que alguém trate do assunto, que ele tem que ir lá para dentro. Só que a cena é de um filme e uma comédia. A América é uma tragédia de 200 mil mortos.

«WHO READS THE PAPERS?» (versão preliminar portuguesa de 1945)

Há um engraçadíssimo sketch em Yes, Prime Minister, intitulado «Who Reads the Papers?» em que aquele analisa de forma muito crítica as características dos principais jornais da imprensa britânica (e dos seus leitores...). É um dos momentos favoritos dos, como eu, fãs da série. Imaginem assim a minha surpresa ao descobrir na edição do Diário de Lisboa de 23 de Setembro de 1945 (há portanto, precisamente 75 anos!) um interessantíssimo artigo, digno de ser classificado como um predecessor de tal sketch e que não resisto a republicar para que apreciem de vossa justiça.

A IMPRENSA INGLESA E A VIDA ANEDÓTICA DALGUNS JORNAIS

A Inglaterra é o país das tradições – e dizê-lo constitui já lugar comum. Mas é curioso notar, ainda assim, que esse conservantismo se deve, em grande parte, à opinião pública orientada pela imprensa.

Nota curiosa, porém: a tiragem de um jornal nem sempre corresponde ao seu grau de influência, como acontece, por exemplo, com o «Daily Express» que tira perto de 3 milhões de exemplares, e com o «Times» que anda à roda dos 180 mil.

Para que, entretanto, se possa bem compreender a função da imprensa britânica, com as suas zonas de influência e razões de existência, é preciso esclarecer desde já: seis grandes «trusts» dominam essa existência, três dos quais – os principais – são comandados por lorde Rothermere («Daily Mail», «Evening News», «Sunday Dispatch», dez diários de província e mais oito periódicos de província); lorde Beaverbrook («Daily Express», «Evening Standard», «Sunday Express» e dois jornais de província); lorde Camrose («Daily Telegraph» e «Financial Times»).

Depois vem o Kemsley Newspapers, com o «Daily Sketch», o «Suday Times» e treze jornais de província e vinte e dois periódicos.

Deve, porém, esclarecer-se que nos interior destes grupos, muitos dos jornais conseguiram conservar uma certa independência – como, por exemplo, o «Sunday Times» que, não obstante pertencer ao «trust» Kemsley é considerado fora das funções de órgão de partido.

Por outro lado, é preciso assinalar que há três grandes jornais fundamentalmente independentes e que, por isso mesmo, exercem sobre a opinião pública uma influência muito mais ponderável, porquanto não vai actuar em sectores partidários – e aqui está porque os 180 mil exemplares do «Times» têm uma influência superior á dos três milhões de exemplares do «Daily Express». Como o «Times», de resto, há, pelo menos, mais dois órgãos importantíssimos: o «News Chronicle» e o «Manchester Guardian», este provinciano.

Para bem compreender os textos que as agências telegráficas muitas vezes espalham pelo estrangeiro, reflectindo opiniões escritas em jornais ingleses, vale a pena, talvez, desfiar um pouco a meada dos interesses políticos que esses jornais representam, mesmo quando não são órgãos de partido.

Assim, o «Times» é considerado conservador. Mas como não é órgão da política, foi o primeiro a censurar, embora moderadamente, os excessos palavrosos do sr. Churchill, líder do partido conservador. Por outro lado, com este velho jornal – o mais velho em Inglaterra que, em 1944, tirou em média 178 mil exemplares – dá-se uma circunstância curiosa: não estando ligado á política do «Foreign Office», embora muitas vezes seja empregado como balão de ensaio, sem que tal implique com dependência – o «Times» tem maior influência no estrangeiro do que na Inglaterra.

Para defender o «Times» de influências estranhas á sua independência, está atenta uma comissão de controle de que fazem parte o arcebispo de Cantuária, o chanceler da universidade de Oxford e, ainda, outras personalidades que não pertencem aos meios políticos, nem aos meios jornalísticos, afim de evitar o escândalo de 1917 – quando o «Times» foi controlado pelo «Daily Mail» e vendido ao preço de um “penny, o que não bastava apra assegurar a sua autonomia financeira...

Para ilustrar o grau da sua influência na política estrangeira, citam-se apensa três datas: em 1938, foi o «Times» que propôs Munique, em 1942, advogou a amizade anglo-soviética e, em 1944, pôs-se ao lado da França.

O «News Chronicle», independente, aproxima-se dos trabalhistas e é sempre um órgão liberal. Tira 1.300.000 exemplares e é lido, principalmente, pelos comerciantes – talvez porque o seu proprietário, Cadbury, é fabricante de excelentes chocolates.

O «Daily Herald», órgão do partido trabalhista, tira qualquer coisa como 1.700.000 exemplares – mas não tem influência fora do partido. É um jornal “familiar”, há quem o considere, cínico, talvez para se vingar do redactor-chefe, que é filho de um antigo mineiro do País de Gales...

O «Daily Telegraph» é o órgão do parido conservador. Tira 700 mil exemplares e a má língua e os mal intencionados afiançam que só é lido por quem não tem inteligência para “atingir” os artigos substanciosos do «Times»...

O «Daily Mirror», com os seus dois milhões de exemplares, é o jornal das fotos. Então, os tendenciosos – o jornal não tem tendências – dizem que ele é para os que não sabem ler nem gostam de pensar...

O «Daily Express», que tira 2.800.000 exemplares, é muito bem feito, mas vive, principalmente, das caricaturas de Low. Diz-se que, certa vez que o caricaturista esteve três meses sem enviar a sua colaboração o jornal baixou espantosamente a sua tiragem. Porquê, então o êxito? Em grande parte, porque Low, em geral, atinge lorde Beaverbrook, o dono do jornal...

As histórias que andam ligadas á actividade da imprensa inglesa encheriam algumas páginas de má-língua. Mas, é preciso compreender: a Inglaterra tem alto nível de vida e não há pobre que não compre três ou quatro jornais por dia – fora as revistas da especialidade...

A MORTE DE BOURVIL

23 de Setembro de 1970. Morte prematura do actor cómico francês Bourvil (nome artístico de André Raimbourg) aos 53 anos, de cancro (mieloma múltiplo). Conjuntamente com outros actores franceses como Fernandel ou Louis de Funés, Bourvil faz parte de um certo género ligeiro da cinematografia francesa que, sendo conhecida na época que agora evoco, há muito perdeu importância nos ecrãs de cinema portugueses - embora existiam de quando em vez uns assomos de ressurgência (exemplo: Christian Clavier - Que mal fiz eu a Deus?) Retornando a Bourvil, esta canção sobre La tactique du gendarme é um dos seus maiores êxitos e é uma pena que seja tão pouco conhecida. Não sendo depreciativa para com as autoridades, a letra também não é propriamente muito abonatória para com os seus agentes. O segredo da canção reside nesse equilíbrio entre o cómico e o irónico sem chegar a ser maldoso. Ainda há muito poucos dias me lembrei dela, da necessidade tanto de «bons pés», como de «sagacidade», perante as imagens de uma altercação entre o deputado Ascenso Simões, um vizinho da rua de São Bento (abaixo) e as notícias que essa altercação teria envolvido mesmo as forças policiais e que o próprio Ascenso teria sido detido. Ascenso é uma lenda nesse subgénero da política portuguesa das chapadas e bengaladas. Qual teria sido a melhor táctica do gendarme naquelas circunstâncias? Tanto mais que (e vale a pena recordar) Ascenso Simões já terá sido, noutros tempos (2005-07), secretário de Estado dos gendarmes (Administração Interna)?...

22 setembro 2020

O IRAQUE INVADE O IRÃO, INICIANDO A GUERRA IRÃO-IRAQUE (1980-88)

22 de Setembro de 1980. Como corolário de uma situação tensa que se foi agudizando, o Iraque invade o Irão, embora a notícia desse dia do Diário de Lisboa não chegue a dar isso a entender ao leitor, no meio do fogo cruzado dos comunicados (qual deles o mais aldrabado...) dos dois beligerantes. Sobre o conflito que irá opor os dois países durante os próximos oito anos, já aqui fizera uma sugestão de leitura, de um livro que, infelizmente, três anos entretanto passados, não vejo grandes perspectivas de vir a ser traduzido.

O APARECIMENTO DA EURONEXT

22 de Setembro de 2000. Aparecimento da Euronext que reunia (então) as bolsas de Paris, Amesterdão e Bruxelas. Posteriormente reuniram-se-lhes as bolsas de Lisboa (2002), Dublin (2018) e Oslo (2019). É a maior organização bolsista da Europa... continental. A sede operacional situa-se em Paris, mas a sede social situa-se em Amesterdão, para que os impostos sejam colectados na Holanda em mais um exemplo do que se entende por uma questão de frugalidade...

21 setembro 2020

«NENHUM POTENCIAL ESCÂNDALO POLÍTICO É PARA SER LEVADO A SÉRIO, ATÉ SER DEVIDAMENTE DESMENTIDO...»

Uma das mais importantes lições de política que aprendi com Yes, Minister, é que não há nenhum potencial escândalo político que deva ser encarado com seriedade, a não ser a partir do momento em que ele seja oficialmente desmentido. É o que acaba de acontecer precisamente em Inglaterra, com uma história de uma suposta viagem que o primeiro-ministro Boris Johnson terá feito, incógnito, a Itália, mais precisamente a Perugia, viagem essa que se ficou a saber porque o aeroporto local, orgulhoso e ansioso de se promover, resolveu publicitar numa «press-release». Publicada originalmente em Itália, devidamente comentada atendendo às circunstâncias de o Reino Unido, nomeadamente o governo do próprio Boris Johnson, estar a impor restrições múltiplas às deslocações dos britânicos pela Europa, a notícia fez o seu caminho até Londres, onde é hoje recuperada, acompanhada não só do desmentido enfático do gabinete do primeiro ministro («A história é uma completa inverdade. O primeiro-ministro não esteve em Itália recentemente.»), como de um outro desmentido do secretário britânico dos Transportes, Grant Shapps, que, por sinal, faz um desmentido redigido daquela forma cuidadosa, que não deixa o declarante a fazer figura de parvo no caso dos acontecimentos virem a dar uma reviravolta: «Não, que eu tenha conhecimento.» Ora o conhecimento do secretário britânico dos Transportes é fluído... e, por outro lado, Shapps conhecerá o chefe do seu governo. Enfim, encarar o assunto com seriedade não é sinónimo de o rumor ser verdadeiro ou, também, que ainda não se vá a tempo de conseguir abafar o escândalo. Tudo isto pode não vir a dar em nada. Mas, se se vier a comprovar a viagem a Itália de Boris Johnson, o assunto irá ser mais um drama de folhetim a abalar o seu governo, a respeito de um tópico que já teve um episódio precedente, quando um dos principais assessores do primeiro-ministro, foi apanhado a furar as regras do confinamento
Adenda e conclusão do escândalo que o não chegou a ser (22 de Setembro) - Tudo acabou por recair na admissão embaraçadíssima por parte dos responsáveis do aeroporto de Perugia que a pessoa responsável pelas suas relações públicas tem apenas uma ideia muuuito vaga da política britânica e de quem é o seu primeiro-ministro. A pessoa em questão estaria convencida que Tony Blair - que abandonou o cargo há treze anos! - ainda era o primeiro-ministro do Reino Unido (já se seguiram Gordon Brown, David Cameron e Theresa May antes de Boris Johnson) e era a Blair que a «press-release» se referia. Isto é tão medíocre que não pode ser inventado! 

DEPOIS DA CONVENÇÃO DO «CHEGA» ESTE FIM-DE-SEMANA, PARA O PRÓXIMO É O CONGRESSO DO «ALIANÇA»...

Chega e Aliança: Duas formações políticas recentes (2019), baptizadas com uns nomes patuscos, que foram anunciadas como melões doces e que depois, à prova, sabem ambas a pepino. Uma está muito bem nas sondagens; a outra não está.

20 setembro 2020

A ÚLTIMA QUEDA DE ROMA

20 de Setembro de 1870. As tropas italianas entram em Roma, concluindo o processo de unificação italiana. Durante os onze séculos precedentes, a cidade fora administrada pelo Papa. Agora passaria a ser a tão desejada capital de Itália. Depois de ter sido tantas vezes conquistada desde a sua fundação lendária em 753 a.C., esta, de há 150 anos, permanece a última vez em que a conquista de Roma teve repercussões políticas sérias.

O ATAQUE AO QUARTEL GENERAL DO MI6

20 de Setembro de 2000. O edifício do Quartel General do MI6, os serviços secretos britânicos, sofre um atentado. Uma das janelas do oitavo piso foi atingida por um míssil RPG-22 de fabricação soviética lançado de uma distância de uns 250 a 300 metros. Mas eram 10H00 da noite e pouca gente estaria no edifício. Foi mais simbólico que destrutivo. Por uma vez, os autores, uma facção dissidente do IRA, não tiveram que mostrar imaginação na escolha do alvo: limitaram-se a tentar reproduzir, com os meios e condições que lhes eram possíveis, uma cena do último filme do 007 que estreara no ano anterior: The World is not Enough. (abaixo) Contudo, essa reencenação de James Bond era apenas um dos aspectos de facécia em todo o episódio, comentado depois à volta do Mundo de um modo que não agradava particularmente aos britânicos.
Um jornal como o New York Times apresentava-o como se pode ler abaixo dois dias depois. Apesar de incorporar a versão oficial das autoridades britânicas, de que se tratara de um pequeno míssil (o que não era bem verdade: o RPG-22 é uma arma antitanque capaz de atravessar paredes com mais de um metro de espessura...) e que só causara estragos mínimos ao edifício (isso era verdade, mas era a versão 007 que então corria mundo...), os norte-americanos não se eximiam de criticar os seus aliados: fora um embaraço para uma agência de serviços secretos e demonstrara a vulnerabilidade de importantes instituições governamentais a ataques terroristas. Eram comentários que eram impossíveis de encontrar na imprensa britânica, tanto à direita, como à esquerda. E contudo... se deixarmos passar um ano e chegar a 11 de Setembro de 2001 e, se relermos a crítica do New York Times, vemos que ela encaixa, magistral, no que aconteceu naquele dia, quando o Pentágono foi atingido.

19 setembro 2020

COMO SÃO ANTIGAS - E FALSAS - AS PROMOÇÕES AO SUCESSO DAS SOLUÇÕES «MUSCULADAS»

19 de Setembro de 1970. O Diário de Lisboa publicava na sua terceira página um artigo resultante da parceria que mantinha com o Los Angeles Times . O tema era o sucesso como a «Grécia dos coronéis» (uma ditadura militar implantada através de um golpe de Estado em 1967) tornara eficaz o aparelho fiscal grego, país, onde, «no passado, não pagar os impostos não era considerado um crime, mas sim um desporto nacional». (não estranhe se ficar com a sensação que já ouviu esta expressão em algum outro lado, mas já lá iremos...) Para conseguir esse resultado ocupando a pasta das Finanças, prosseguia o artigo do Los Angeles Times, os coronéis haviam ido buscar o Adamantios Androutsopoulos aos Estados Unidos (que é o único sítio que produz economistas de jeito, toda a gente sabe...). E ele e mais os coronéis, concluía-se da leitura do artigo, aumentara não apenas as receitas fiscais como eliminara o défice, num processo que, lia-se ao terminar, «não se pode negar (...) que os coronéis levaram muitos gregos a modificar os seus hábitos negligentes no pagamento de impostos. Talvez os meios que utilizam sejam discutíveis, mas o resultado é precisamente o que os líderes militares do país esperavam conseguir com o seu golpe de Estado: um grupo jamais igualado de cidadãos está a cumprir as suas obrigações fiscais para com a sociedade». E, o articulista do Los Angeles Times rematava sobranceiro com a advertência: «Se a "reforma" subsistirá depois da baioneta ser afastada das suas costas é outro assunto». A conclusão era cristalina: os gregos só lá iam, à porrada. Ora as reformas, as verdadeiras são as que subsistem, e quando elas precisam de porrada para subsistir está a falar-se de outra coisa que não "reformas". A direita musculada costuma confundir conceitos. Quanto à superioridade moral como o artigo está redigido, Joe Alex Morris Jr. que o escreveu, desconhecia então que, dali por três anos e no próprio país que produzia estas luminárias que educavam o resto do Mundo com os seus artigos traduzidos, o vice-presidente dos Estados Unidos iria resignar ao cargo por acusações de suborno, extorsão e... fraude fiscal. Requinte final de ironia: o vice-presidente em questão chamava-se Spiro Agnew e era de ascendência grega... Por outro lado, e como de prever, a "reforma dos coronéis" não reformou nada: há cinco anos, o jornalista da RTP José Rodrigues dos Santos esteve na Grécia a fazer a cobertura das eleições locais, e um dos seus temas favoritos foi a evasão fiscal dos gregos, repetindo em espírito, senão mesmo em letra, a piada de 1970, a de que não era um crime, apenas um desporto nacional.
Ainda 19 de Setembro de 1970 e ainda a respeito da Grécia. Um jovem grego de 22 anos chamado Constantino Georgakis imolava-se em protesto contra o regime dos coronéis e contra a pressão que esse regime estava a exercer sobre si e a sua família, já que ele militava num dos partidos democráticos gregos no exílio, em Itália. Como todas as imolações é um gesto carregado de simbolismo mas, neste caso concreto, um completo desastre do ponto de vista mediático e como arma de propaganda. O jovem «Kostas» Georgakis suicidou-se às três da manhã, numa deserta praça de Génova, cidade italiana onde estudava. Porém, não tomou quaisquer disposições para promover o significado do seu gesto, uma proclamação como o fizera o checo Jan Palach, ou convocara fotógrafos e repórteres ao seu redor a cobrir o acontecimento como acontecera o monge vietnamita Thích Quảng Đức. Nem foi preciso o governo grego esforçar-se para abafar o que acontecera. Sem promoção, estes gestos caem no esquecimento - o Diário de Lisboa daquele dia e dos dias seguintes não tem qualquer referência ao acontecimento.

18 setembro 2020

ESTÁ TUDO, MAIS OU MENOS, RELACIONADO...

...ou, se calhar, não. Os acontecimentos tiveram lugar com três horas de intervalo. Uma das vítimas morreu, a outra estará seriamente ferida. Uma foi alvejada a tiro, a outra esfaqueada. Mas o repórter da noite do Washington Post deve ter achado preferível embrulhar as duas notícias para comodidade sua e de quem o lê. Só fica a faltar John Cleese e a sua famosa tirada noticiosa: «E agora para uma coisa completamente diferente..

UM POSSÍVEL RETRATO DOS LEITORES DESTE BLOGUE, ONTEM, AO LEREM AS MINHAS EXPLICAÇÕES PORQUE A NOTÍCIA DA VIDA EM VÉNUS ERA UMA ESPECULAÇÃO DISPARATADA...

...enfim, pelo menos admitamos que terem reagido da mesma maneira que Jon Stewart é uma hipótese mais provável do que a existência de vida em Vénus.

17 setembro 2020

O CANDIDATO QUE NÃO TINHA «NADA» QUE O PUDESSE PREJUDICAR

Quando em 1920, nos Estados Unidos, os membros do partido republicano escolheram o senador do Ohio Warren G. Harding (acima, à esquerda) para candidato à eleição presidencial que se disputaria em Novembro daquele ano, houve quem, entre os dirigentes do partido, lhe perguntasse com toda a frontalidade se ele teria alguma coisa escondida na sua vida pessoal e privada que poderia "desqualificá-lo" de vencer a corrida presidencial. Warren Harding, pediu-lhes, conscienciosamente, algum tempo de introspecção. Numa América tão hipocritamente puritana a avaliar os vícios alheios, ele poderá ter ponderado que mascava tabaco, que jogava poker (a dinheiro), que era um bom bebedor (e a Proibição acabara de entrar em vigor) e que mantinha casos extra-conjugais, não apenas com a mulher de um dos seus amigos, mas também com uma secretária trinta anos mais nova do que ele, de quem tivera, aliás, uma filha. E depois, com o distanciamento com que estas auto-avaliações se devem fazer, Warren Harding terá concluído e respondido: - "Não, acho que não há «nada» por onde possam pegar." É uma história engraçada, mas os republicanos não são assim tão ingénuos: por ocasião da campanha, completam-se agora 100 anos, pegaram na amante casada e pagaram-lhe, a ela e à família, uma longa viagem pela Ásia e pelas ilhas do Pacífico, além de uma generosíssima avença. Nas eleições de 2 de Novembro de 1920, Warren Harding venceu confortavelmente (60% do voto popular, 37 do 48 estados). E, contudo, todos esses segredos que o próprio não considerava importantes se se viessem a saber, tornaram-se conhecidos, e, no final do século XX, o republicano Warren Harding disputava com os democratas John F. Kennedy e Bill Clinton o título oficioso do presidente mais libidinoso que ocupara a Casa Branca naquele século. Contudo, no século XXI Donald Trump levou o conceito a um novo patamar... Este abaixo, que apareceu hoje, é apenas mais um caso de assédio associado a si e sem significativas penalidades eleitorais.

A DESCOBERTA DE VIDA ORGÂNICA EM VÉNUS... E TAMBÉM DA VIDA INTELIGENTE NOUTROS SÍTIOS

Depois de, desde há cinquenta anos, o planeta Marte ter sido escolhido o local mais favorito para a existência - e descoberta - de Vida para além da Terra, ei-lo agora subitamente destronado por Vénus, que desde o tempo das viagens espaciais havia sido desqualificado como o que de mais parecido havia com o Inferno em todo o Sistema Solar. A descoberta de Vida no Universo sempre foi um dos mais interessantes desafios científicos, daqueles que mais é capaz de suscitar a atenção das pessoas, mas cuja importância, apercebi-me com o tempo, começa pela descoberta de Vida - mas da inteligente... - na redacção dos órgãos de comunicação social. Tomemos o exemplo do cabeçalho do jornal A Bola que escolhi para decorar este texto. É óbvio que os «investigadores NÃO detectaram sinais alguns de vida em Vénus». O que aconteceu é que os investigadores detectaram uma molécula de um composto chamado fosfamina (que, até anteontem, eu tinha na conta de um insecticida) na atmosfera de Vénus e, a partir daquilo que quimicamente se sabe, não conseguem explicar a sua presença numa tal concentração. Nas condições da Terra, as únicas que se conhecem com segurança, o composto é criado artificialmente (o tal insecticida...) ou então, é um subproduto excretado por organismos que subsistem em ambientes quase desprovidos de oxigénio. Os extremófilos de que há uns anos aqui falei, quando de uma outra incursão neste tema. É aquilo, e apenas aquilo, que autoriza que se levante a hipótese, uma hipótese, que a fosfamina detectada na atmosfera venusiana possa ter uma origem biológica. Contudo, há muitas outras hipóteses mais plausíveis. E há muitas hipóteses, porque a nossa ignorância é imensa quanto às condições que vigoram na atmosfera venusiana, a uma altitude de 50 km, onde o fenómeno foi detectado. Para mais, o pouco que se sabe, que estas notícias entusiasmadas não destacam, não é prometedor: as nuvens são constituídas por gotículas de 90% de ácido sulfúrico. Num meio com uma tal concentração de ácido, não há nenhuma forma de vida terrestre conhecida que subsista - o que não invalida que haja quem se dedique a especular sobre o assunto... Mas uma abordagem verdadeiramente científica obriga-nos a procurar primeiro as explicações para a existência de tal composto em reacções de química clássica, em condições de pressão e temperatura sobre as quais conhecemos muito pouco, em vez de nos atrevermos a dar um salto para um qualquer processo hipotético de química orgânica, só porque esta última explicação dá uma imensa alegria aos jornais.

16 setembro 2020

«SETEMBRO NEGRO»

16 de Setembro de 1970. O tão antecipado confronto militar entre as autoridades jordanas e as organizações palestinianas acantonadas no país tem finalmente lugar. Os combates ir-se-ão prolongar pelos próximos onze dias, até dia 27, período ao longo do qual o sangrento conflito foi acompanhado e se manteve em lugar destacado na comunicação social de todo o Mundo (abaixo). Tratou-se de um conflito de características essencialmente urbanas, em que o exército jordano procurava desalojar o inimigo dos bairros de refugiados palestinianos onde sempre haviam predominado. Os problemas dos jordanos, que gozavam de uma inegável superioridade material e que venceriam militarmente o conflito, eram de dois tipos: a) Prevenir a multiplicação de baixas civis, sobretudo entre os refugiados palestinianos, o que teria custos políticos no resto do mundo árabe; b) impedir que os militares iraquianos e sírios interviessem no conflito ao lado da OLP, contando para isso com a mediação do Egipto. Em última instância, a Jordânia apelou directa e ostensivamente aos Estados Unidos (abaixo), e isso é capaz de ter sido determinante para o desfecho deste «Setembro Negro». Quanto ao desfecho, do ponto de vista militar a vitória jordana foi incontestável: para além dos palestinianos subjugados, também os sírios apanharam uma pequena tareia. Do ponto de vista político, a vitória jordana teve uma aparência mais disfarçada, mas as organizações armadas que constituíam a OLP perderam a capacidade de operar autonomamente em território jordano. Com o tempo, elas foram-se transferindo gradualmente para o Líbano, transportando consigo um caos político-militar muito congénito. Em 1975 começava, por sua vez, uma Guerra Civil, neste último país, com a contribuição generosa dos palestinianos. Foi a validação final da decisão difícil do rei Hussein da Jordânia de os expulsar do seu país em Setembro de 1970.

15 setembro 2020

LONGOS ARTIGOS DE JORNAL EM FORMATO DE LIVRO

Em 1988 comprei o meu primeiro livro de Bob Woodward (acima). Foi também o único. Os livros de Bob Woodward não são propriamente livros. Com o estatuto que alcançou por ser um dos dois jornalistas do Caso Watergate é um bocadinho impossível encaixá-lo como jornalista num órgão de informação tradicional, num jornal como o Washington Post, para onde trabalhava quando se tornou famoso, ou então numa cadeia de televisão, onde se desperdiçará, por causa da sua baixa capacidade de comunicação através dela - televisão. Temos assim que, Woodward, por causa da sua popularidade, é o único jornalista que me apercebo que desenvolve a sua actividade através da publicação de livros - que são assim uma espécie de artigos muitos extensos (o livro acima tem 462 páginas!). E como são livros, precisam de ser promovidos, e é isso que ele, Woodward, faz, de forma aliás bem eficaz, realçando-lhe de forma sucinta os aspectos mais polémicos, socorrendo-se dos órgãos de informação tradicional. Mas como também são apenas artigos extensos, sem qualquer profundidade de análise, em poucos meses os livros de Bob Woodward perdem o interesse, como deu logo para perceber depois de ler est'As Guerras Secretas da CIA 1981-1987. É que não é apenas uma questão de se saber hoje quem foi William Casey, o director da CIA entre 1981 e 1987; é uma questão deste livro de Woodward não ajudar hoje a perceber quem ele foi, para além das superficialidades (ia dizer: de wikipedia...). Mas hoje é um dia grande no calendário deste género de publicações (abaixo): é o dia da saída do segundo livro de Bob Woodward sobre Donald Trump, mesmo que (ou sobretudo por) ele possa ser lido independentemente da leitura do primeiro, precisamente sobre o mesmo tema (Donald Trump), publicado há uns dois anos. E de que ninguém já se lembra. Embora o possa parecer, um livro e um artigo com muitas centenas de páginas não são a mesma coisa. Os jornalistas e muita outra gente tendem a não perceber a diferença.

A BATALHA DE INCHON

15 de Setembro de 1950. Muitos dos grandes planos militares resultam porque são simples. Este, que teve lugar há setenta anos nas praias da Coreia ocidental, resultou precisamente por causa disso mesmo e também, não esqueçamos, porque os Estados Unidos dispunham de uma superioridade quase absoluta de meios marítimos, aéreos, terrestres e anfíbios para o poder concretizar. Depois de a Coreia do Norte ter invadido a Coreia do Sul em princípios de Julho daquele ano, a situação militar estabilizara na forma que se pode apreciar no mapa acima: restara uma pequena região no sudeste da península (assinalada a amarelo), onde o que sobrara das unidades militares sul-coreanas e americanas resistiam ao assalto final do exército norte-coreano. Aquele bastião era valiosíssimo politicamente, porque preservava a presença na península, mas era militarmente destituído de interesse. Atacar os invasores pela retaguarda (seta vermelha) é uma daquelas ideias simples, quase infantil. E fazê-lo junto à cidade de Seul, que constituía o nó de comunicações central por onde os exércitos invasores eram reabastecidos,.a localização ideal para isso. E depois, era preciso ser-se norte-americano, porque só eles dispunham dos meios anfíbios e navais necessários para realizar uma operação desse género: desembarcar umas dezenas de milhares de homens (40.000) em território inimigo.
Auxiliava-os significativamente o «know-how» que eles haviam adquirido em operações similares meia dúzia de anos antes, tanto na Europa (Sicília, Itália, Normandia, Provença) quanto no Pacífico (Guam, Filipinas, Iwo Jma, Okinawa). Aliás, grande parte do maior «hardware» datava ainda dessa época, da Segunda Guerra Mundial. Quanto à operação em si, baptizada de Chromite, não tem grande história. Tomando como referência o que acontecera em Overlord, o número de efectivos envolvidos foi apenas de 1/4 dos que estiveram presentes na Normandia. A superioridade em efectivos dos atacantes era de 6 para 1 (3 para 1 na Normandia). E, como também na Normandia, essa superioridade era multiplicada quando se avaliava o poder de fogo disponível dos dois lados. Onde se notava a superioridade daquele momento em relação a 1944 era na cenografia: Douglas MacArthur cuidava muito mais dessas questões de como aparecia do que Dwight Eisenhower. Nesta fotografia abaixo, de há 70 anos, têmo-lo a supervisionar as operações de desembarque em curso, binóculos na mão, escutando interessado as explicações que lhe prestam. É assim que é um general a sério...

14 setembro 2020

QUANDO O COMENTÁRIO POLÍTICO É UMA PALHAÇADA A QUE FALTA APENAS O NARIZ VERMELHO AO PALHAÇO...

Comecemos pelo óbvio: António Costa cometeu uma asneira das grossas, ao integrar a comissão de honra da candidatura de um tipo tão manjado quanto Luís Filipe Vieira. Está a apanhar pancada da opinião pública e também de alguma opinião publicada, e é bem feito. Nem todos se manifestam, mas esses silêncios também têm o seu significado - o de Jerónimo de Sousa, do Chicão, de André Ventura, como já aqui assinalei. Contudo, em complemento a isso, quero agora escrever sobre o oposto: o caso dos que disseram coisas e, a bem da decência e da vergonha dos próprios, deviam ter ficado muito caladinhos. É o caso de Luís Marques Mendes, que é o protagonista daquele programa de comentário político cuja subsistência é um mistério. Já lá aconteceram as análises mais aberrantes, previsões completamente desmentidas nos dias seguintes, tudo o que derrubaria a reputação de Luís Marques Mendes, mas o programa, apesar de tudo isso, misteriosamente (ou não....) subsiste. Ontem, a estrela do comentário político da SIC Notícias também apanhou o autocarro das críticas a António Costa. «Um erro de palmatória». «Passa a ideia de promiscuidade entre política e futebol». Claro... Vejamos, só por acaso, a composição da comissão de honra do mesmo Luís Filipe Vieira ao mesmo cargo quando se candidatou há onze anos. São 168 nomes, dos quais a notícia de então faz questão de destacar alguns, entre os quais... «o político Marques Mendes». Pois... É uma daquelas situações tão flagrantemente ridículas que não há mais nada a acrescentar... A não ser, talvez, e com toda a pertinência, que em 2009, António Costa era presidente da Câmara de Lisboa, e não consta que fizesse parte dessa tal outra comissão de honra de Vieira, numa nota adicional implicitamente crítica para a conduta actual de Fernando Medina...