21 setembro 2020

«NENHUM POTENCIAL ESCÂNDALO POLÍTICO É PARA SER LEVADO A SÉRIO, ATÉ SER DEVIDAMENTE DESMENTIDO...»

Uma das mais importantes lições de política que aprendi com Yes, Minister, é que não há nenhum potencial escândalo político que deva ser encarado com seriedade, a não ser a partir do momento em que ele seja oficialmente desmentido. É o que acaba de acontecer precisamente em Inglaterra, com uma história de uma suposta viagem que o primeiro-ministro Boris Johnson terá feito, incógnito, a Itália, mais precisamente a Perugia, viagem essa que se ficou a saber porque o aeroporto local, orgulhoso e ansioso de se promover, resolveu publicitar numa «press-release». Publicada originalmente em Itália, devidamente comentada atendendo às circunstâncias de o Reino Unido, nomeadamente o governo do próprio Boris Johnson, estar a impor restrições múltiplas às deslocações dos britânicos pela Europa, a notícia fez o seu caminho até Londres, onde é hoje recuperada, acompanhada não só do desmentido enfático do gabinete do primeiro ministro («A história é uma completa inverdade. O primeiro-ministro não esteve em Itália recentemente.»), como de um outro desmentido do secretário britânico dos Transportes, Grant Shapps, que, por sinal, faz um desmentido redigido daquela forma cuidadosa, que não deixa o declarante a fazer figura de parvo no caso dos acontecimentos virem a dar uma reviravolta: «Não, que eu tenha conhecimento.» Ora o conhecimento do secretário britânico dos Transportes é fluído... e, por outro lado, Shapps conhecerá o chefe do seu governo. Enfim, encarar o assunto com seriedade não é sinónimo de o rumor ser verdadeiro ou, também, que ainda não se vá a tempo de conseguir abafar o escândalo. Tudo isto pode não vir a dar em nada. Mas, se se vier a comprovar a viagem a Itália de Boris Johnson, o assunto irá ser mais um drama de folhetim a abalar o seu governo, a respeito de um tópico que já teve um episódio precedente, quando um dos principais assessores do primeiro-ministro, foi apanhado a furar as regras do confinamento
Adenda e conclusão do escândalo que o não chegou a ser (22 de Setembro) - Tudo acabou por recair na admissão embaraçadíssima por parte dos responsáveis do aeroporto de Perugia que a pessoa responsável pelas suas relações públicas tem apenas uma ideia muuuito vaga da política britânica e de quem é o seu primeiro-ministro. A pessoa em questão estaria convencida que Tony Blair - que abandonou o cargo há treze anos! - ainda era o primeiro-ministro do Reino Unido (já se seguiram Gordon Brown, David Cameron e Theresa May antes de Boris Johnson) e era a Blair que a «press-release» se referia. Isto é tão medíocre que não pode ser inventado! 

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