10 setembro 2020

«EU, CÁ POR MIM, DETESTO OS HOMENS»

A história vem de França (donde antigamente vinham as cegonhas), é rápida de contar, e não tem moral no fim: uma escritora francesa de 25 anos, chamada Pauline Harmange, escreveu um pequeno livro (96 páginas), desenvolvimento de um texto que publicara no seu blogue. Talvez o conteúdo ou, talvez mais, o impacto do título - Moi les hommes, je les déteste, que se pode traduzir sem perder a ênfase, por Eu, cá por mim, detesto os homens - transformaram uma daquelas pequenas edições de editora de vão de escada (450 exemplares), num sucesso de vendas: duas reedições e 2.500 exemplares vendidos até agora e isso desde 19 de Agosto! Vai daí, um funcionário do ministério da Igualdade francês* resolveu meter o bedelho, ameaçando sancionar o livrinho... e concedendo-lhe com isso uma promoção gratuita que, para além de dar um empurrãozinho às vendas, neste momento, já transpôs as fronteiras de França. Mas, confesso, o que mais me faz gostar de todo este episódio, motivo aliás para aqui o destacar, é a oportunidade que ele propicia para arejar a palavra misandria, que tem sido completamente ofuscada pelo emprego da sua rival misoginia. Considero-o, ao episódio, assaz ridículo, embora constate que haja quem o leve, do outro lado do funcionário de ministério, com uma seriedade igualmente rigorosa: uma consulta ao site do goodreads comprova-o: 35 apreciações, todas elogiosas e, por acaso, nenhuma de um homem. A rematar, gostaria de constatar o quanto estas experiências que nos chegam lá de fora, nos podem enriquecer com ideias. Imaginemos por cá a edição de um opúsculo em que, como homenagem a uma das mulheres que, cá em Portugal, melhor personifica a misandria, adoptamos o título portentoso (mas extenso) de: Se todas as mulheres fossem como a Maria Teresa Horta, não havia poesia erótica que salvasse a Humanidade da extinção. Deixamos ás leitoras e leitores mais argutos a razão para essa extinção... Seria um livro misógino, mas também talvez se vendesse muito bem...
* O ministério tem um nome giríssimo, parece um daqueles ministérios com nomes intermináveis, como os inventados pelo Pedro Santana Lopes, e a primeira pessoa que imaginamos à sua frente em toda a sua irrelevância, só poderia ser Maria de Belém Roseira: ministério encarregado da igualdade entre mulheres e homens, da diversidade e da igualdade de oportunidades.

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