17 setembro 2020

A DESCOBERTA DE VIDA ORGÂNICA EM VÉNUS... E TAMBÉM DA VIDA INTELIGENTE NOUTROS SÍTIOS

Depois de, desde há cinquenta anos, o planeta Marte ter sido escolhido o local mais favorito para a existência - e descoberta - de Vida para além da Terra, ei-lo agora subitamente destronado por Vénus, que desde o tempo das viagens espaciais havia sido desqualificado como o que de mais parecido havia com o Inferno em todo o Sistema Solar. A descoberta de Vida no Universo sempre foi um dos mais interessantes desafios científicos, daqueles que mais é capaz de suscitar a atenção das pessoas, mas cuja importância, apercebi-me com o tempo, começa pela descoberta de Vida - mas da inteligente... - na redacção dos órgãos de comunicação social. Tomemos o exemplo do cabeçalho do jornal A Bola que escolhi para decorar este texto. É óbvio que os «investigadores NÃO detectaram sinais alguns de vida em Vénus». O que aconteceu é que os investigadores detectaram uma molécula de um composto chamado fosfamina (que, até anteontem, eu tinha na conta de um insecticida) na atmosfera de Vénus e, a partir daquilo que quimicamente se sabe, não conseguem explicar a sua presença numa tal concentração. Nas condições da Terra, as únicas que se conhecem com segurança, o composto é criado artificialmente (o tal insecticida...) ou então, é um subproduto excretado por organismos que subsistem em ambientes quase desprovidos de oxigénio. Os extremófilos de que há uns anos aqui falei, quando de uma outra incursão neste tema. É aquilo, e apenas aquilo, que autoriza que se levante a hipótese, uma hipótese, que a fosfamina detectada na atmosfera venusiana possa ter uma origem biológica. Contudo, há muitas outras hipóteses mais plausíveis. E há muitas hipóteses, porque a nossa ignorância é imensa quanto às condições que vigoram na atmosfera venusiana, a uma altitude de 50 km, onde o fenómeno foi detectado. Para mais, o pouco que se sabe, que estas notícias entusiasmadas não destacam, não é prometedor: as nuvens são constituídas por gotículas de 90% de ácido sulfúrico. Num meio com uma tal concentração de ácido, não há nenhuma forma de vida terrestre conhecida que subsista - o que não invalida que haja quem se dedique a especular sobre o assunto... Mas uma abordagem verdadeiramente científica obriga-nos a procurar primeiro as explicações para a existência de tal composto em reacções de química clássica, em condições de pressão e temperatura sobre as quais conhecemos muito pouco, em vez de nos atrevermos a dar um salto para um qualquer processo hipotético de química orgânica, só porque esta última explicação dá uma imensa alegria aos jornais.

2 comentários:

  1. Calma amigo! Calma! Houve um artigo na BBC uns dias antes do seu artigo aqui no blog a enquadrar mais ou menos nos mesmos termos que o A Teixeira este "soundbyte cientifico" e a minha educacao teve uma forte componente de Biologia, Biologia Evolutiva, Bioquimica, Microbiologia e Microfisiologia.
    Sobre Teoria Militar e Historia Contemporanea, OK je suis Jon Stewart passo a expressao, mas com nestes temas estou "a jogar em casa".

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  2. Estou cheio de calma! E espero não ter escrito nenhuma asneira na minha tentativa de moderar tanto entusiasmo disparatado.

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