02 setembro 2020

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE A COREOGRAFIA DA CERIMÓNIA DA RENDIÇÃO JAPONESA

2 de Setembro de 1945. A cerimónia da rendição japonesa no couraçado USS Missouri, fundeado na baía de Tóquio, põe fim à Segunda Guerra Mundial, quase seis anos, dia por dia, depois de ela ter começado na Europa. Ao contrário do que acontecera a 8 de Maio em Berlim com a rendição alemã, a cerimónia é totalmente protagonizada pelos americanos. Satisfazendo um equilíbrio na rivalidade entre US Army e US Navy, rivalidade essa omnipresente durante toda a guerra no Pacífico, a cerimónia tem lugar num navio da segunda (Armada), embora presidida por um general do primeiro (Exército). E a disposição dos representantes Aliados em nada se assemelha à paridade fotográfica de Berlim. Na fotografia acima, a discursar, t(iv)emos o general Douglas MacArthur... e mais ninguém, demonstrando que aquele país considerava-se a si próprio, ter sido o determinante para a derrota japonesa. Muito provavelmente, teria razão. Por detrás de MacArthur, da esquerda para a direita, numa distribuição protocolar que, dá para supor, se terá inspirado na participação dos países respectivos para o esforço da guerra na Ásia e no Pacífico, aparece o general Xu Yongchang da China, o almirante Bruce Fraser do Reino Unido, o tenente-general Kuzma Derevyanko da União Soviética, o general Thomas Blamey da Austrália, o coronel Lawrence Moore Cosgrave (quase totalmente encoberto por MacArthur) do Canadá, o general Philippe Leclerc de Hauteclocque da França, o vice-almirante Conrad Helfrich dos Países Baixos e, finalmente, o vice-marechal-do-ar Leonard Isitt da Nova Zelândia. Independentemente do destacado protagonismo americano, a disposição hierarquizada dos oito aliados sugere alguns comentários. Um deles é a preferência que é dada, naquelas circunstâncias, pelos norte-americanos aos seus aliados chineses, em detrimento dos seus outros aliados britânicos; os britânicos estão ali presentes com o seu mais credenciado stiff upper lip. Outro dos comentários é sobre o lugar confrangedoramente menor que é atribuído à participação da França Livre na Ásia, posicionada depois da Austrália e do Canadá. E o terceiro é, evidentemente, a presença indisfarçável mas desconfortável da União Soviética na cerimónia, quando ainda não há um mês estava em paz com o Japão. Os soviéticos não têm ilusões quanto ao papel secundário que os americanos lhes reservam, a escolha de quem ali os representa traduz isso, um mero tenente-general, quando a operação Tempestade de Agosto, fora comandada por três marechais (Vasilevsky, Malinovsky e Meretskov), todos eles ostensivamente ausentes da cerimónia. Abaixo, vemos MacArthur a olhar para Derevyanko enquanto este assina os documentos oficiais de rendição.

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