Depois de, desde há cinquenta anos, o planeta Marte ter sido escolhido o local mais favorito para a existência - e descoberta - de Vida para além da Terra, ei-lo agora subitamente destronado por Vénus, que desde o tempo das viagens espaciais havia sido desqualificado como o que de mais parecido havia com o Inferno em todo o Sistema Solar. A descoberta de Vida no Universo sempre foi um dos mais interessantes desafios científicos, daqueles que mais é capaz de suscitar a atenção das pessoas, mas cuja importância, apercebi-me com o tempo, começa pela descoberta de Vida - mas da inteligente... - na redacção dos órgãos de comunicação social. Tomemos o exemplo do cabeçalho do jornal A Bola que escolhi para decorar este texto. É óbvio que os «investigadores NÃO detectaram sinais alguns de vida em Vénus». O que aconteceu é que os investigadores detectaram uma molécula de um composto chamado fosfamina (que, até anteontem, eu tinha na conta de um insecticida) na atmosfera de Vénus e, a partir daquilo que quimicamente se sabe, não conseguem explicar a sua presença numa tal concentração. Nas condições da Terra, as únicas que se conhecem com segurança, o composto é criado artificialmente (o tal insecticida...) ou então, é um subproduto excretado por organismos que subsistem em ambientes quase desprovidos de oxigénio. Os extremófilos de que há uns anos aqui falei, quando de uma outra incursão neste tema. É aquilo, e apenas aquilo, que autoriza que se levante a hipótese, uma hipótese, que a fosfamina detectada na atmosfera venusiana possa ter uma origem biológica. Contudo, há muitas outras hipóteses mais plausíveis. E há muitas hipóteses, porque a nossa ignorância é imensa quanto às condições que vigoram na atmosfera venusiana, a uma altitude de 50 km, onde o fenómeno foi detectado. Para mais, o pouco que se sabe, que estas notícias entusiasmadas não destacam, não é prometedor: as nuvens são constituídas por gotículas de 90% de ácido sulfúrico. Num meio com uma tal concentração de ácido, não há nenhuma forma de vida terrestre conhecida que subsista - o que não invalida que haja quem se dedique a especular sobre o assunto... Mas uma abordagem verdadeiramente científica obriga-nos a procurar primeiro as explicações para a existência de tal composto em reacções de química clássica, em condições de pressão e temperatura sobre as quais conhecemos muito pouco, em vez de nos atrevermos a dar um salto para um qualquer processo hipotético de química orgânica, só porque esta última explicação dá uma imensa alegria aos jornais.
Calma amigo! Calma! Houve um artigo na BBC uns dias antes do seu artigo aqui no blog a enquadrar mais ou menos nos mesmos termos que o A Teixeira este "soundbyte cientifico" e a minha educacao teve uma forte componente de Biologia, Biologia Evolutiva, Bioquimica, Microbiologia e Microfisiologia.
ResponderEliminarSobre Teoria Militar e Historia Contemporanea, OK je suis Jon Stewart passo a expressao, mas com nestes temas estou "a jogar em casa".
Estou cheio de calma! E espero não ter escrito nenhuma asneira na minha tentativa de moderar tanto entusiasmo disparatado.
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