A IMPRENSA INGLESA E A VIDA ANEDÓTICA DALGUNS JORNAIS
A Inglaterra é o país das tradições – e dizê-lo constitui já lugar comum. Mas é curioso notar, ainda assim, que esse conservantismo se deve, em grande parte, à opinião pública orientada pela imprensa.
Nota curiosa, porém: a tiragem de um jornal nem sempre corresponde ao seu grau de influência, como acontece, por exemplo, com o «Daily Express» que tira perto de 3 milhões de exemplares, e com o «Times» que anda à roda dos 180 mil.
Para que, entretanto, se possa bem compreender a função da imprensa britânica, com as suas zonas de influência e razões de existência, é preciso esclarecer desde já: seis grandes «trusts» dominam essa existência, três dos quais – os principais – são comandados por lorde Rothermere («Daily Mail», «Evening News», «Sunday Dispatch», dez diários de província e mais oito periódicos de província); lorde Beaverbrook («Daily Express», «Evening Standard», «Sunday Express» e dois jornais de província); lorde Camrose («Daily Telegraph» e «Financial Times»).
Depois vem o Kemsley Newspapers, com o «Daily Sketch», o «Suday Times» e treze jornais de província e vinte e dois periódicos.
Deve, porém, esclarecer-se que nos interior destes grupos, muitos dos jornais conseguiram conservar uma certa independência – como, por exemplo, o «Sunday Times» que, não obstante pertencer ao «trust» Kemsley é considerado fora das funções de órgão de partido.
Por outro lado, é preciso assinalar que há três grandes jornais fundamentalmente independentes e que, por isso mesmo, exercem sobre a opinião pública uma influência muito mais ponderável, porquanto não vai actuar em sectores partidários – e aqui está porque os 180 mil exemplares do «Times» têm uma influência superior á dos três milhões de exemplares do «Daily Express». Como o «Times», de resto, há, pelo menos, mais dois órgãos importantíssimos: o «News Chronicle» e o «Manchester Guardian», este provinciano.
Para bem compreender os textos que as agências telegráficas muitas vezes espalham pelo estrangeiro, reflectindo opiniões escritas em jornais ingleses, vale a pena, talvez, desfiar um pouco a meada dos interesses políticos que esses jornais representam, mesmo quando não são órgãos de partido.
Assim, o «Times» é considerado conservador. Mas como não é órgão da política, foi o primeiro a censurar, embora moderadamente, os excessos palavrosos do sr. Churchill, líder do partido conservador. Por outro lado, com este velho jornal – o mais velho em Inglaterra que, em 1944, tirou em média 178 mil exemplares – dá-se uma circunstância curiosa: não estando ligado á política do «Foreign Office», embora muitas vezes seja empregado como balão de ensaio, sem que tal implique com dependência – o «Times» tem maior influência no estrangeiro do que na Inglaterra.
Para defender o «Times» de influências estranhas á sua independência, está atenta uma comissão de controle de que fazem parte o arcebispo de Cantuária, o chanceler da universidade de Oxford e, ainda, outras personalidades que não pertencem aos meios políticos, nem aos meios jornalísticos, afim de evitar o escândalo de 1917 – quando o «Times» foi controlado pelo «Daily Mail» e vendido ao preço de um “penny, o que não bastava apra assegurar a sua autonomia financeira...
Para ilustrar o grau da sua influência na política estrangeira, citam-se apensa três datas: em 1938, foi o «Times» que propôs Munique, em 1942, advogou a amizade anglo-soviética e, em 1944, pôs-se ao lado da França.
O «News Chronicle», independente, aproxima-se dos trabalhistas e é sempre um órgão liberal. Tira 1.300.000 exemplares e é lido, principalmente, pelos comerciantes – talvez porque o seu proprietário, Cadbury, é fabricante de excelentes chocolates.
O «Daily Herald», órgão do partido trabalhista, tira qualquer coisa como 1.700.000 exemplares – mas não tem influência fora do partido. É um jornal “familiar”, há quem o considere, cínico, talvez para se vingar do redactor-chefe, que é filho de um antigo mineiro do País de Gales...
O «Daily Telegraph» é o órgão do parido conservador. Tira 700 mil exemplares e a má língua e os mal intencionados afiançam que só é lido por quem não tem inteligência para “atingir” os artigos substanciosos do «Times»...
O «Daily Mirror», com os seus dois milhões de exemplares, é o jornal das fotos. Então, os tendenciosos – o jornal não tem tendências – dizem que ele é para os que não sabem ler nem gostam de pensar...
O «Daily Express», que tira 2.800.000 exemplares, é muito bem feito, mas vive, principalmente, das caricaturas de Low. Diz-se que, certa vez que o caricaturista esteve três meses sem enviar a sua colaboração o jornal baixou espantosamente a sua tiragem. Porquê, então o êxito? Em grande parte, porque Low, em geral, atinge lorde Beaverbrook, o dono do jornal...
As histórias que andam ligadas á actividade da imprensa inglesa encheriam algumas páginas de má-língua. Mas, é preciso compreender: a Inglaterra tem alto nível de vida e não há pobre que não compre três ou quatro jornais por dia – fora as revistas da especialidade...
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