Recentemente, porque me envolvi numa troca de comentários mais acesa num idioma que não o meu (francês - com a atrapalhação consequente), lembrei-me, e fiquei com muita inveja, de Milan Kundera que, apesar da nacionalidade checa, escreve com a desenvoltura que aqui se pode apreciar todas estas coisas bonitas em idiomas que nos são mais acessíveis que o seu checo nativo (inglês, francês), facilitando-nos, não só a mais fácil compreensão dos seus pensamentos, como também tendo o cuidado de os publicar de forma manuscrita, personalizada, mas sempre legível, muito embora o estilo da letra divirja conforme o idioma em que se exprime. Deve ser uma questão da caligrafia de Milan Kundera se personalizar conforme o idioma em que escreve. (Note-se que é sabido que Kundera se exprime fluentemente em francês.)
Por associação de ideias a esta sofisticação da caligrafia com o idioma, a publicação dos heterónimos de Fernando Pessoa seriam «peanuts» (perdão «arašídy», como escreveria um Kundera preocupado em voltar a escrever na sua língua materna!). Especialmente quando o heterónimo de Fernando Pessoa é tão heterónimo (abaixo) que o próprio Fernando Pessoa nem o chegou a conhecer, muito menos ao poema a que apuseram o seu nome no fim e que, por acaso, é de um autor brasileiro chamado Fernando Sabino. Como consolo a todos aqueles que o divulgaram como pessoano pelas redes sociais, constate-se que, assim como há os bilhetes da lotaria que se pagam a si mesmos por terem a terminação, aqui também acertaram no primeiro nome do autor... Enfim, o que se percebe em todas estas deambulações literárias é que as redes sociais palpitam de excelência prosadora e de apreço pela poesia pura.
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