28 setembro 2020

A MORTE DE GAMAL ABDEL NASSER

28 de Setembro de 1970. Subitamente, quando o mundo árabe está mergulhado na crise do «Setembro Negro» (já em vias de conclusão), dá-se a morte inesperada de Gamal Abdel Nasser, o líder carismático desse mundo árabe então dividido pela disputa jordano-palestiniana. Mas, mais do que invocar o episódio, recordo-o. E recordo-o por causa das imagens que a televisão nos fazia chegar do Cairo e do resto do Egipto, de manifestações ostensivas de «pesar e consternação», que eu não podia deixar de comparar com o que acontecera à televisão dois meses antes, por ocasião da morte de Salazar. Essas outras, insuportavelmente soturnas, eu apercebera-me que haviam sido muito forçadas, e estas agora, ainda mais teatrais, faziam-me fermentar ainda mais a dúvida de que aquilo que passava na televisão, mesmo o vindo «lá de fora», era mesmo assim como era mostrado.
Adenda: Décadas depois vim a compreender que algumas daquelas manifestações de dor mais extremadas até podiam ser genuínas, como resultado de sociedades em que a propriedade colectiva dos meios de informação tornara doentes no endeusamento dos governantes. Sociedades que, como bem recordou em certa altura o presidente da Câmara de Loures, suscitavam dúvidas quanto à sua natureza, nomeadamente a de ele não ter a certeza se não seriam democráticas...

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