24 de Setembro de 1990. A notícia do dia é que o Soviete Supremo da União Soviética aprovou a transição da economia de um modelo socialista para um modelo «de mercado» (capitalista, na terminologia comunista canónica). Como um se fosse um grandioso Götterdämmerung (crepúsculo dos deuses...), o Diário de Lisboa que, desde 1974, se tornara num dos maiores paladinos da causa comunista entre os jornais portugueses, dedica um substancial espaço das suas quatro primeiras páginas a essa decisão que reforça, de uma outra forma, o colapso da ideologia (marxista-leninista) e do Império (soviético). Apetece citar o verso de Fernando Pessoa, apesar de um outro contexto: (Malhas que o Império tece!). Mas esse crespúsculo dos deuses pode ser ainda mais plúmbeo. Num último requinte de ironia, na primeira página dessa mesma edição do Diário de Lisboa, aparece a notícia de que a direcção do jornal apresentou a demissão. Na carta em que o fizeram, há uma passagem que se pode ler nessa notícia e que reputo de significativa de tudo o que fora a condução do jornal: «Não é razoável pretender recuperar em três meses um jornal cuja imagem se deteriorou ao longo de dezasseis anos.» (i.e., desde 1974...).
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