Esta é a crónica de hoje de João Miguel Tavares no Público. Anexei-lhe o primeiro parágrafo para me dispensar de reescrever em que consiste o tema. A acusação é, não só justa, como tremenda, apesar do autor pretender fugir a esse qualificativo um pouco mais adiante - «...se falo numa falência moral e política do regime, não o faço pelo gosto do tremendismo...» Contudo, se, e como se pode ler mais adiante, «...o problema da corrupção chegou ao topo das três pirâmides que sustentam qualquer Estado: o poder político, o poder económico e o poder judicial», suponho que algo terá ficado por dizer naquela interessante crónica, durante uma boa meia dúzia de anos que precedem os três que ali são enfatizados (2017-20), a respeito do comportamento e das competências do quarto poder, o poder da corporação a que João Miguel Tavares pertence, o jornalismo.
Tivessem sido intimidados por José Sócrates, comprados por Ricardo Salgado (acima), ou então protegidos por uma teia burocrática neste caso mais recente de Rui Rangel, são logo três grandes casos em que algo terá ficado por denunciar prévia e preventivamente por parte dos colegas de João Miguel Tavares quando as coisas estavam a acontecer vários anos antes, e qualquer dos casos só chegou ao conhecimento da opinião pública depois de muito coçado, no estado da tal chaga a que se refere o título da crónica. Em oportunidade, em qualquer dos processos citados, o comportamento colectivo da classe dos jornalistas deixou imenso a desejar. E João Miguel Tavares, tendo falado do que corrói o poder político, o económico, o judicial, esqueceu-se de falar do que corrói o poder da sua corporação. Que, mesmo não sendo uma chaga, também não é aquela equimose ligeira que se depreenderia, considerando a sua omissão. Eu só me dispus a publicar esta nota crítica porque, muito de quando em vez, João Miguel Tavares até se dispõe a desfardar-se, e consegue apreciar o trabalho dos seus colegas como se de um civil se tratasse: lembro uma Carta aos Jornalistas de Economia (Por que raio andaram tão distraídos ao longo dos últimos anos?), publicada em Agosto de 2016. Pois eu creio que ele poderia repor esta última pergunta, agora a respeito da corrupção do poder político e do económico e do judicial em Setembro de 2020. Ninguém tinha dado por nada: nem com Sócrates? Nem com Salgado? Nem com Rangel?
Sem comentários:
Enviar um comentário