A União Europeia já é suficientemente antiga para ter criado as suas tradições. Uma delas é que as cimeiras, haja o que houver para negociar, têm de produzir um «happy end». Assim foi mais desta vez. Mas a experiência leva-nos a considerar quanto valeria a pena que António Costa moderasse o seu entusiasmo de dar o assunto por Aprovado! Vai para mais de uma dúzia de anos, o seu antecessor José Sócrates celebrizou-se com este momento televisivo deplorável, saudando efusivamente todos os que eram chiques e displicentemente todos os que o não eram. Para além da sua figura triste, o que já parece estar esquecida é a razão para tanto contentamento: a aprovação do Tratado de Lisboa. Agora: quantos se dispõem a justificar a esta distância tanta alegria? O Tratado de Lisboa tem servido para o quê? A União Europeia, que nunca o deixara de o ser, tornou-se numa estrutura cada vez mais difícil de gerir, repleta de cada vez mais fissuras, à medida que se alargava. Os 15,3 mil milhões que agora nos são brandidos à frente dos olhos, não nos devem fazer esquecer que a cimeira não ultrapassou o problema de que existem duas (senão mesmo mais) concepções dificilmente compatíveis daquilo que a União Europeia deve vir a ser. E que o outro bloco nestas negociações, o dos países ditos frugais (a vermelho), representa no mapa uma espécie de Mitteleuropa da prosperidade... com um buraco no meio, como um donut, buraco onde figura a própria Alemanha. Esta última, que é o único de todos os países da União a aspirar à hegemonia continental, é capaz de ter receado que, desta vez, se esticasse a corda, com a França e a Itália do outro lado, ela se partia. Ou então, é a antiguidade no posto que confere uma outra sabedoria a Angela Merkel. De qualquer modo, e por uma vez excepcional, posso fazer minha a expressão como Donald Trump costuma evadir as questões mais melindrosas: «We'll see what happens..».
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