27 julho 2020

SOBRE AS CONSEQUÊNCIAS DA MORTE DE SALAZAR

27 de Julho de 1970. Morreu Salazar mas falemos antes das consequências dessa morte. Se repararem, o óbito ocorreu às 9 e 15, a notícia começou a ser difundida ao fim da manhã. Mas, por essa altura, já eu estava na praia que aquele sol da manhãzinha é que fazia bem às crianças. E como felizmente não havia telemóveis, eu e todos os que lá estavam ficámos dispensados de receber as notificações tintinantes e irritantes dos SMS com a novidade que, presumo e como hoje também é comum, também não lhes interessaria nada naquelas circunstâncias. O que é sempre bom: ser-se preservado de saber o que não nos interessa saber. Só fiquei a saber da notícia à hora de almoço. Com o acontecimento, as programações da rádio e televisão tornaram-se uma pesarosa chatice, emitindo interminavelmente música fúnebre por horas, dias a fio, num luto que, sendo oficial, não me parecia socialmente compartilhado, nem quando o era - a minha avó continuava a considerá-lo responsável por nos ter livrado da guerra - era acompanhado nas suas manifestações em excesso. Salazar era um chato, a sua morte ainda mais chata, e é responsável pela leitura de empreitada de uns três ou quatro livros da série abaixo. Nessa perspectiva, a morte de Salazar fez alguma coisa pela Cultura.

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