Terça-feira, 22 de Julho de 1980. Numa página interior do jornal aparece uma daquelas notícias que o tempo tornará depois incomensuravelmente irónicas. Na Guiné-Bissau, sete estrangeiros, entre os quais duas cooperantes portuguesas, são expulsos do país por tráfego e consumo de droga: cannabis, importada do Senegal, conforme se pode ler no detalhe da notícia. Fora a apreensão de uma dessas encomendas que levara a polícia local à descoberta em Bissau de um grupo internacional - além das portuguesas, havia uma canadiana, um italiano, um francês, um americano e um polaco - o «meio», como a notícia o designa. E como rematava, acusador, o comunicado oficial: «o "meio" visava não só fomentar a toxicomania, mas também os demais vícios que a ela sempre se associam». Mal saberia quem escreveu isto, uma verdadeira diatribe contra um grupo restrito de apreciadores de um prosaico charro, que a Guiné-Bissau viria a ser conhecida, uns 25 anos depois, como o narco-estado africano por excelência, o sítio por onde transitam convenientemente os carregamentos de cocaína da América do Sul para a Europa...
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