Vai por aí uma preocupação doméstica imensa, tão estúpida quanto vasta, com os países europeus que anunciam ir sancionar os passageiros oriundos de Portugal com medidas de quarentena. O título do artigo acima do The Guardian, hoje, demonstra como o processo de decisão de quais os países a abranger nada tem de objectivo ou de baseado em critérios científicos. Neste caso concreto do Reino Unido, o que se percebe é que, em vez de serem essas tais regras a decidir quais os países a incluir e a excluir, faz-se ao contrário: desde que a Espanha, a Itália, a França e a Alemanha apareçam nos países incluídos, a partir daí é que se podem definir quais as regras de inclusão e exclusão. Ou seja, em vez de se estabelecerem as regras e com elas se classificarem os países, faz-se precisamente ao contrário: seleccionam-se os países e depois elaboram-se as regras para que os escolhidos sejam incluídos. É uma questão do foro político e não científico. Só assim se pode compreender que um país com uma das piores performances no controlo da pandemia como o Reino Unido, tenha o desplante de, com a maior pompa e circunstância, arrogar-se o direito de estabelecer regras sanitárias a respeito de viagens com países terceiros que exibem performances assaz superiores à sua. Não que isso queira necessariamente significar alguma coisa: há países na Europa que andam a publicar dados a respeito desse controlo da pandemia que estão descaradamente aldrabados, como é, por exemplo, o caso da Grécia, que, para uma população equivalente à belga, portuguesa, sueca ou checa, apresenta apenas uma fracção mínima de casos e óbitos do que os registados em qualquer um desses países (são menos de 10% dos casos portugueses). É mais uma indicação que a questão é política, onde não terá qualquer relevância o rigor científico: até agora, não apareceu nenhum país europeu que se dispusesse a desencadear um incidente diplomático questionando oficialmente a fidedignidade dos dados de alguns dos seus parceiros, por muito implausíveis que sejam. Ao invés e no caso concreto da Grécia, aquele país até se arroga a simpatia de tratar Portugal com condescendência: Covid-19. Grécia vai permitir entrada de portugueses a 1 de Julho! Não se tratasse de turismo e fosse um assunto sério de saúde publica, e eu tenho uma sugestão de onde os britânicos podiam enfiar essa sua lista de países «isentos de quarentena». E contudo e ao mesmo tempo e por cá, há quem (abaixo) noticie toda esta palhaçada do quem-pode-ir-aonde como se o assunto fosse mesmo a sério.
Que o capital não tem alma, já sabemos mas é preciso ser-se muito cínico e não ter vergonha na cara para ter a distinta lata de ditar normas de comportamento que, pelos vistos, a avaliar pelo panorama no Reino Unido não se lhes aplica. E eu também tenho a mesma sugestão, Sofia. Até porque, tendo em conta o pessoal que vem fazer férias ao Algarve, é preferível ficarem por lá a curtir as bebedeiras, que é só mesmo nisso que gastam o dinheiro, com a agravante dos distúrbios e do mau ambiente que criam. Em Albufeira e na Oura, por exemplo, às 10 horas da manhã já andam a contar os metros à estrada. Aliás na Oura é mesmo e só, o chamado turismo dos bares. Acho que até devíamos era celebrar a decisão do Governo britânico, não queremos cá gente que só vem agravar ainda mais a situação já de si tão complicada. Obrigada pelo texto. Sempre lúcida e atenta, um gosto ler tudo o que escreve.
ResponderEliminarNão reparei que o texto não era da Sofia Loureiro. Peço desculpa ao autor, dono deste blogue, António Teixeira.
ResponderEliminarNão faz mal. Não me ofendi pelo lapso.
ResponderEliminarUm abraço.
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