05 julho 2020

A AUDIÊNCIA DE PAULO VI AOS LÍDERES DA FRELIMO, PAIGC E MPLA

5 de Julho de 1970. Os jornais do dia dão destaque a uma audiência que o Papa Paulo VI dera alguns dias antes (1 de Julho) a três líderes dos movimentos de libertação das colónias portuguesas: Amílcar Cabral do PAIGC, Agostinho Neto do MPLA e Marcelino dos Santos da Frelimo. Normalmente uma notícia deste cariz teria sido censurada, mas ela tornava-se indispensável para dar enquadramento à violenta nota emitida pelo ministério português dos Negócios Estrangeiros, condenando a iniciativa - e daí o hiato de tempo transcorrido entre a data da audiência e ela ter sido noticiada em Portugal. O gesto do Vaticano, acautelando o futuro da igreja católica naqueles três países, era tão compreensível quão previsível seria a reacção da parte portuguesa que se seguiu. Nesta altura dos acontecimentos, a atitude romana era a de tentar aplacar a irritação de Lisboa e, para isso, até mesmo os sacerdotes, que tanto admoestavam os fiéis escutando as confissões, por causa do pecado da mentira, não se eximiam de ser eles, por sua vez, a mentir grosseiramente: escrevia-se a rematar a notícia acima «Um prelado do círculo pontifical observou que os três dirigentes, que são católicos, tinham sido admitidos à audiência "na sua qualidade de cristãos". A audiência durou sete a oito minutos.» (Em primeiro lugar, nenhum dos três era conhecido por ser cristão praticante; em segundo lugar, Agostinho Neto nem era católico, a sua formação fora feita na missão protestante metodista dirigida por seu pai; em terceiro lugar, a audiência podia ter sido breve, mas chegara para que o Papa tivesse oferecido a cada um, um exemplar da sua encíclica ‘Populorum Progressio)

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