10 julho 2020

AQUELE SENHOR IRLANDÊS ELEITO PARA O EUROGRUPO E QUE VAI «MANDAR» AINDA MENOS QUE MÁRIO CENTENO...

Creio que se impõe o enquadramento desta notícia da eleição do ministro das Finanças irlandês para a presidência do Eurogrupo. Vale a pena recordar que o «Eurogrupo é um órgão (meramente) informal em que os ministros dos Estados-Membros da área do euro debatem os assuntos respeitantes à moeda única». E que o papel do seu presidente é o de «apresentar publicamente os resultados das reuniões». A visibilidade mediática do titular daquele cargo só terá começado quando da crise da dívida pública da zona, consubstanciado na pessoa de Jeroen Dijsselbloem*, o titular holandês, que protagonizou uma atitude de confrontação ostensiva para com os países mais atingidos pela crise. Entre as críticas mais severas que lhe fizeram, houve quem o considerasse, nessa atitude dura e deselegante, como um «homem de palha» do seu homólogo alemão, Wolfgang Schäuble (abaixo). Terá sido para amenizar um clima que se tendera demasiado que o escolhido para lhe suceder veio de um dos países visados pelas suas críticas: o português Mário Centeno. Mas os dois anos e meio que entretanto decorreram com Centeno a presidir ao Eurogrupo parecem mostrar que o organismo deixou de ser o que fora. O que os países pensarão uns dos outros não terá mudado, mas, ao contrário do período mais agudo da crise, convencionou-se em não vir lavar a roupa suja para a rua. O presidente voltou a ser aquilo que está escrito que seja: o que «apresenta publicamente os resultados das reuniões», o responsável para que se alcancem consensos e para que não se produzam bojardas insultuosas para com outros países membros. E é tomando tudo isto em conta que chegamos à eleição de Paschal Donohoe. Há a notícia oriunda de um órgão oficial da União Europeia como a euronews (acima) e há a notícia publicada no Le Monde, que é um jornal impermeável a lirismos europeus: para aquele jornal, ou se trata de uma vitória da França ou de uma derrota da França. Neste caso, foi uma derrota. A candidata apoiada pela França,a espanhola Nadia Calviño, perdeu a eleição - 9 votos contra 10 para Donohoe dos 19 ministros das Finanças que compõem o Eurogrupo. O problema que não tenho visto a ser referido, mas que se percebe do artigo do Le Monde, é o da «qualidade» da votação: terão votado vencidos (a votação é secreta) a Alemanha, Chipre, a Espanha, a Finlândia, a França, a Grécia, a Itália, Malta e Portugal. São apenas 9, mas estes países e as respectivas economias representam 5/6 do total da zona Euro. E como na União Europeia os estados membros são todos iguais, mas há uns que são mais iguais que os outros, tenho dificuldade em imaginar Paschal Donohue a fazer alguma coisa mais do que a servir de mestre de cerimónias das reuniões futuras do Eurogrupo. Se for pelas suas repercussões futuras, a notícia desta eleição, desconfio, não valerá grande coisa.
* Ninguém se lembrará que o seu antecessor por oito anos (2005-2013) se chamava... Jean Claude Juncker.

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