22 julho 2020

UMA LISBOA REPLETA DE REFUGIADOS SEM TER PARA ONDE IR

22 de Julho de 1940. Se os livros de História de 1940 costumam referir-se atentamente às celebrações do duplo centenário então promovidas pelo Estado Novo - (1) (2) (3) - tende a faltar a essa narrativa o balanceamento de acrescentar que, por exemplo, a Exposição do Mundo Português, instalada junto ao Jerónimos, contrasta com um Tejo onde, como se pode ler acima nesta notícia do Diário de Lisboa de há 80 anos, estão surtos - e se podiam ver da exposição - um bom punhado de navios carregados de refugiados europeus sem destino. É importante vincar o contraste enorme entre o que acontecera até há bem pouco tempo, a respeito do que por cá se pensava de uma Europa longínqua que nunca nos ligara atenção alguma, alimentando os nossos congénitos complexos de inferioridade, e o que então estava a acontecer à vista de todos os lisboetas - navios carregados de milhares de refugiados que, como se pode ler acima, «vivem em precárias circunstâncias». A fotografia é do Thysville, um dos navios mencionados, um navio belga partido de Antuérpia em Maio e que, supostamente e depois da rendição belga aos alemães, devia ter sido entregue a estes últimos, mas que, em finais de Julho de 1940, ainda se encontra metaforicamente encalhado no porto de Lisboa com as suas centenas de passageiros a bordo a passar dificuldades, sem que soubessem o que fazer. À nossa porta, havia quem estivesse muito pior do que nós!

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