25 de Julho de 1940. Numa reunião magna, que juntava os 650 oficiais mais graduados do exército suíço, desde os comandantes dos corpos de exército até aos de batalhão, o general Henri Guisan (acima), Comandante em Chefe, expunha os seus planos para a contingência de uma invasão alemã, agora que os exércitos ocidentais (francês, britânico, belga, holandês) haviam sido derrotados e que o país se apresentava rodeado pela Wehrmacht ou pelos seus aliados italianos. O local escolhido para a reunião, Rütli, junto ao Lago Lucerna, possuía um significado reforçado na identidade suíça, pois fora ali que, em 1291, se pronunciara o juramento que forjara o primeiro pacto entre cantões que estivera na origem da confederação helvética. Os planos de contingência anunciados pelo general Guisan naquele dia previam à retirada do dispositivo militar que defendia as fronteiras da Suíça até um reduto nacional, ocupando o centro do país em caso de invasão. Ao contrário de tantos outros planos militares, incluindo-se neste caso, os do lado alemão, precisamente para invadir a Suíça (a operação Tannembaum), os planos e as intenções do alto comando militar suíço eram para ser conhecidos: internamente para animar os próprios suíços; e externamente para refrear as intenções dos potenciais inimigos - a Alemanha e a Itália. «Enquanto na Europa houver milhões em armas e enquanto houver forças importantes capazes de nos atacar a qualquer altura, este exército tem que permanecer mobilizado». A questão da mobilização do exército suíço era primordial, já que os seus efectivos, da ordem de mais de meio milhão de homens, só era possível de manter com a convocação dos reservistas para as fileiras. Mas havia mais um pormenor: «Não prestem atenção àqueles que, por ignorância ou más intenções, espalham notícias derrotistas e dúvidas. Devemos confiar não apenas no nosso direito mas também nas nossas capacidades, que nos possibilita, se todos manifestarmos uma vontade de ferro, defendermo-nos com sucesso.» O destinatário desta passagem era o presidente do Conselho Federal, Marcel Pilet-Golaz que, precisamente um mês antes (25 de Junho) e perante o que acontecera à França cinco dias antes, fizera um discurso radiofónico de conteúdo assaz acomodatício com aquilo que se tornara a nova realidade europeia - a hegemonia alemã. Tecnicamente, Rütli é um golpe militar, ainda para mais praticado na civilizadíssima Suíça: o poder militar subleva-se contra a condução da política externa praticada pelo poder político. Acresce-se à ironia da situação que o fascista ali seria Henri Guisan, simpatizante do SVV (Federação Patriótica Suíça), enquanto Marcel Pilet-Golaz era membro do partido Liberal. Avaliando-o pelo que sabemos agora, o Relatório de Rütli não constituiu um elemento de dissuasão: mesmo depois delas, Adolf Hitler nunca abandonou a ideia de vir a controlar a Suíça. Mas estas declarações de há oitenta anos de Henri Guisan, que deixaram Berlim em fúria, terão evidenciado em que circunstâncias é que os alemães o teriam que fazer, e eles tinham muitas outras prioridades militares para além da Suíça. Como aqui não me canso de frisar, os países que conseguiram permanecer neutrais durante toda a Segunda Guerra Mundial, para o conseguir, fizeram-no sempre em circunstâncias muito nebulosas. Já agora, e porque se trata da Suíça, vale a pena relembrar o Caso Dänicker, aqui contado em 2015.
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