Esta de José Gomes Ferreira ir recuperar a profecia despeitada de Pedro Passos Coelho de há quatro anos, para lhe procurar arranjar um contexto que a justificasse fez-me lembrar todos aqueles livros que procuram interpretar os escritos de Nostradamus, martelando-os para que os dizeres consigam ter antecipado aquilo que o profeta, no século XVI, já sabia que ia acontecer no século XX e que nós já presenciámos. E contudo, isso é apenas a fase preparatória, porque aquilo que o(s) autor(es) do(s) livro(s) nos quer(em) mesmo impingir é a sua visão sobre o que nos reserva o futuro, normalmente de contornos apocalípticos. Escolhi a capa deste livro de Serge Hutin porque já o tive; li-o e deitei-o fora de tão mau que era. Ao jornal i não precisei de fazer o mesmo porque não o compro. Mas a entrevista de José Gomes Ferreira ao jornal, que me surgiu pelos comentários das redes sociais, despertou-me a comparação, tanto mais que, como se percebe pelas notícias da época (acima) e ao contrário do que José Gomes Ferreira agora quer retocar, Pedro Passos Coelho fez a alusão à chegada do diabo num contexto bem preciso: em antecipação às eleições autárquicas de 2017, que lhe correram bastante mal. A reconstrução de Gomes Ferreira é espúria. Mas confesso que o associar o episódio a Nostradamus também se deve ao teor de como o disparate de José Gomes Ferreira está a ser defendido nas redes sociais: privados de partido (PSD ou CDS), os simpatizantes saudosistas do antigo primeiro-ministro estão a assemelhar-se cada vez mais àqueles incondicionais do esotérico, que constroem um mundo só para si, impermeáveis à argumentação racional.
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