Em 1 de Julho de 1980 o governo polaco acabara por implementar uma medida que andara a adiar até mais não poder: a actualização do preço dos artigos alimentares essenciais, cujos preços haviam sido mantidos artificialmente baixos desde 1966. Tentativas anteriores de os aumentar, haviam sido responsáveis pela queda do anterior executivo comunista polaco em Dezembro de 1970. A situação tornara-se insustentável, mas catorze anos de congelamento artificial dos preços, tornava brutais agora alguns aumentos, como seja o caso da carne, cujo preço duplicara de um dia para o outro. Nesse dia e nos imediatamente seguintes, despontaram greves espontâneas e fracamente coordenadas em variadíssimas instalações fabris por toda a Polónia reclamando por aumentos salariais que compensassem os novos preços. O movimento já envolvia mais de 200 empresas paralisadas na Polónia quando, cinco dias passados, jornais como o Diário de Lisboa se dispuseram finalmente a noticiar que a situação social polaca estava em convulsão e, mesmo assim, a notícia era distorcida. O que estava a acontecer era descrito como «indícios de um certo descontentamento operário que se estende a diversos pontos do país» e isso desencadeara «um apelo premente aos dirigentes polacos», por parte da revista Politika, «órgão do comité central do Partido», para que procedessem «com toda a urgência» a «profundas modificações estruturais da gestão» do país «a fim de o fazer sair do marasmo económico no qual se encontra». (abaixo) A notícia do Diário de Lisboa dificilmente podia ser mais absurda. Acreditar na sua redacção sugere um «desdobramento de personalidade» entre o partido comunista que governara a Polónia desde 1945 e aquele que agora apelava por reformas... Os polacos não eram como os leitores do vespertino lisboeta. O ritmo das paralisações evoluiu num crescendo cada vez mais reivindicativo, pelo mês de Julho, prolongando-se por Agosto. Em Agosto de 1980 o Verão Quente foi na Polónia e desse Verão Quente os comunistas não falaram muito e agora preferem nem falar.
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