21 julho 2020

A CONCLUSÃO DA BARRAGEM DE ASSUÃO

21 de Julho de 1970. Data em que foi concluída a construção da barragem de Assuão no rio Nilo. Trata-se de uma obra de engenharia respeitável - a construção das infraestruturas durou dez  anos, o enchimento total da albufeira demorará ainda mais outros seis - mas é sobretudo um símbolo político do Egipto moderno. Com esta conclusão, o Egipto, que Heródoto considerara uma «dádiva do Nilo», terá subvertido as suas relações de poder com o seu rio. O financiamento para a sua construção, que o Egipto de Nasser solicitou tanto ao Ocidente quanto ao Leste, acabou sendo concedido pelos soviéticos, o que foi causa e consequência de um período histórico em que, também por causa do conflito com Israel, o Egipto se reposicionou em relação àqueles que haviam sido até aí os seus alinhamentos internacionais tradicionais. Por estranho que pareça, esta data da conclusão dos trabalhos, acabou por passar desapercebida no meio de outras cerimónias a que o regime preferiu dar mais relevo, como sejam a do início dos trabalhos em 1960, ou a da visita ao empreendimento feita pelo líder soviético Nikita Khrushchev em 1964. E contudo, havia algo de estranhamente premonitório nesta conclusão técnica da obra há precisamente cinquenta anos: escondido no futuro, anunciava-se para muito breve - dali por escassos dois meses, a 28 de Setembro - a morte inesperada de Gamal Abdel Nasser, aquele que transformara Assuão na obra imponente do seu regime, qual faraó tardio do século XX. Em 16 de Janeiro de 1971, a barragem de Assuão foi oficialmente inaugurada, por Anwar Sadat, sucessor de Nasser e por Nikolai Podgorny, em representação dos capitais russos que a haviam financiado, mas faltava ali alguém...

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