15 julho 2020

O CICLISTA VIRTUOSO

«O primeiro-ministro holandês Mark Rutte não tem pinta para fazer de vilão num daqueles filmes em que o carácter das personagens se topa logo pela cara. Pessoalmente, ele assemelha-se a um daqueles vigários/padres que tomam café em excesso e que andam acelerados a doses elevadas de cafeína, misturando algumas manias inofensivas com sermões repetitivos e chatos sobre a importância de se viver de acordo com os seus próprios meios. Com 53 anos, ele mora sozinho num apartamento modesto em Haia, deixa-se fotografar indo de bicicleta para o seu trabalho (acima) e, uma vez por outra, tira uma folga para realizar acção social, ensinando estudos sociais numa escola local. Tanta virtude não impediu Rutte de ter sido crismado o vilão em Bruxelas, quando a União Europeia se prepara para discutir a criação de um fundo de 750 mil milhões de euros, destinado a estimular as economias que estão a ser afectadas pela pandemia.

É Rutte e o governo holandês que lideram a oposição à implementação desse fundo, que envolve uma combinação de doações no valor de 500 mil milhões de euros e de empréstimos de outros 250 mil milhões de euros, a serem distribuídos pelos países individualmente mas suportados colectivamente pela União, que contrairá dívida em grande escala pela primeira vez. O esquema, ou pelo menos o seu esboço, está a ser apoiado pela França, Alemanha e todos os outros grandes países, enquanto Mark Rutte se assuma como o líder informal de um grupo de países cépticos e renitentes que é constituído pela Suécia, Dinamarca e Áustria, para além da Holanda, que são conhecidos como os "Frugal Four". Numa Cimeira Europeia que se realizará esta semana – a primeira presencial desde o início do surto da covid-19 – o assunto irá estar em cima da mesa. E é necessária alcançar-se a unanimidade para que o plano avance. Vamos ver o que acontece.»

É assim que a The Economist (numa tradução minha muito livre) sumariza o que de importante se apresenta nesta próxima semana europeia. (a fotografia fui também eu que a escolhi e, vindo mesmo a propósito, é demasiado encenada para a minha apreciação: numa Holanda que já assistiu a vários atentados, um primeiro-ministro sem segurança por perto - como a fotografia quer mostrar - é coisa que não existe).

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