27 julho 2020

A MORTE DE UM DITADOR E A PERPETUAÇÃO NO PODER DE OUTRO

Ainda 27 de Julho de 1970. Precisamente no mesmo dia em que morria Salazar, era notícia um outro ditador de longa duração: Fidel Castro. Na altura ainda o não era, mas viria a ser. Num daqueles comemorações/comícios em que a população cubana era convidada a comparecer em grande número - na notícia da France Press pode ler-se 200.000 pessoas - o ditador cubano pronuncia um dos seus característicos discursos intermináveis em que parece apresentar um acto de contrição sobre os objectivos económicos (não) alcançados por Cuba, depois de 11 anos a ocuparem o poder (1959-1970): «A nossa aprendizagem, de nós os chefes da revolução custou excessivamente caro. Pagamos agora as consequências da nossa ignorância. Valeria mais dizer ao povo que escolhesse um outro chefe ou, o que seria preferível, outros chefes.» Mas Fidel não estava a falar a sério... como se percebia pela continuação: adoptar uma tal atitude «seria hipócrita» porque substituí-lo e aos seus colaboradores mais próximos não solucionaria os problemas actuais do povo cubano. Ou seja, se, por um lado, assumia haver fracassado rotundamente, continuava por outro a considerar ser ele e apenas ele o único cubano com capacidade de saber como se solucionavam os problemas do povo cubano. Claro que Fidel não era hipócrita e se sacrificou para continuar as suas diligências para solucionar os problemas passados e vindouros do povo cubano. À época, não se sabia por quanto tempo mais, mas hoje sabe-se: foram mais 36 anos, até que em Julho de 2006 Fidel transferiu os seus poderes para o seu irmão Raul. É apenas uma coincidência curiosa lembrar a propósito, que também Salazar ocupara o poder por 36 anos (1932-1968). O que não seria curiosa coincidência seria imaginar Salazar a transferir o poder para um seu - hipotético - irmão... Sempre houve nepotismo no fascismo, mas nunca foi tão descarado como no comunismo. 

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