Warren G. Harding (1865-1923), o 29º presidente dos Estados Unidos (1921-23), ignorado quando não classificado como um dos piores presidentes que o país conheceu, fotografado no jardim de sua casa ao lado da sua esposa Florence (1860-1924), que parece contemplá-lo em toda a sua majestade (o enquadramento da foto eleva-o bem mais para cima do que o seu 1,83), embevecida de admiração. A realidade é outra. Quando os Harding se casaram Warren tinha 25 anos, Florence já ia nos 30 com um filho de 10 de um casamento anterior. Ela era filha do grande rival político local de Harding, que ambos detestavam. Podia não ser um casamento de amor mas o casal parecia complementar-se: Warren seria a face do projecto mas foi Florence que assumiu a direcção e fez prosperar o jornal do marido, o Marion Daily Star, a publicação regional do condado homónimo do estado do Ohio (que ainda subsiste). A carreira política de Warren G. Harding que o levou à presidência terá sido ajudada pelo facto de se ter tratado do primeiro jornalista a ocupar aquele cargo mas não se deve subestimar a importância de uma primeira-dama também experimentada como editora, consciente do poder que o tratamento da imagem pode ter junto do público. O casal não teve filhos, o marido tratava a esposa por duquesa, uma alcunha que se difundiu possivelmente por ser muito sugestiva da personalidade da visada e a bela figura ostentada acima por Warren Harding tê-lo-á feito manter diversas ligações sentimentais ao longo da vida de casados, uma delas suficientemente prolongada para que existam cerca de cem cartas escritas por si à amante, outra delas suficientemente intensa para que dela tivesse resultado uma filha. Abafar tudo isso – entre outros pecadilhos menores – terá sido a preocupação do aparelho do partido Republicano durante a campanha presidencial de 1920 que culminou com a sua vitória. Já na Casa Branca, competiu a Florence Harding amolecer os jornalistas fazendo-os esquecer que ela fora casada (era melhor escrever-se que enviuvara...) ou que tivera um filho (o enteado do presidente morrera em 1915, tuberculoso e alcoólico). E tê-lo-á conseguido até a morte súbita do marido em Agosto de 1923. Depois disso, a questão deixou de ter importância alguma, mas a viúva distinguiu-se ainda por algumas disputas quanto ao destino a dar à documentação do marido, mas morreu pouco mais de quinze meses depois. Quase cem anos passados, actualmente bem poderia ser uma outra Hillary Clinton.
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