O início da corrida espacial foi verdadeiramente acirrado pelos relatos da comunicação social norte-americana e pelo impacto que esses relatos tiveram na sua própria opinião pública. É verdade que o ano de 1957 fora proclamado na ONU como o Ano Internacional da Geofísica e que os Estados Unidos, numa pose não desprovida de sobranceria, se haviam comprometido a prosseguir os seus esforços para a colocação de um satélite artificial em órbita. Mas, o impacto do feito dos soviéticos quando, em 4 de Outubro de 1957, colocaram eles o Sputnik-1 em órbita, nunca poderia ter sido entendida cabalmente pelo americano médio se os jornais e a restante...
...informação da época não tivessem trabalhado devidamente a dimensão da afronta, inserindo-a no quadro da Guerra-Fria que então se travava. E tudo o que de mau se descrevera só se agravou quando, um mês depois, os soviéticos colocaram em órbita um segundo satélite ainda maior, levando uma cadela a bordo (3 de Novembro de 1957). Por essa altura, os poderes norte-americanos ainda se atabalhoavam na organização da reacção ao ultraje que, entretanto, parecera apoderar-se de toda a sua opinião pública. A resposta, marcada para 6 de Dezembro de 1957 teve que ser marcada por uma cobertura mediática que os soviéticos...
...haviam cuidadosamente sabido evitar, conscientes da falta de fiabilidade das novas tecnologias. E, como prognosticaria o Murphy da Lei que leva o seu nome (e que, a propósito e não por acaso, trabalhava num ramo colateral ao da astronáutica), como era para dar fiasco, deu: diante de todos, o foguetão que devia levar o satélite para órbita subiu um penoso metro... e despencou-se em chamas. Homenagem aos construtores do putativo satélite baptizado com o visionário nome de Vanguard-1, esse resistiu ao desastre e continuou a transmitir no meio dos destroços... Mas os jornalistas não pareciam numa disposição humorística ou capazes de...
...aceitar ver o lado optimista do incidente: no dia seguinte ao fiasco as primeiras páginas estavam cobertas de trocadilhos sarcásticos a respeito do que acontecera rebaptizando o satélite: flopnik, kaputnik, etc. Quando dali por quase dois meses, a 31 de Janeiro de 1958, os Estados Unidos conseguiram finalmente colocar um satélite em órbita, o Explorer, accionando um projecto (foguetão e satélite) concorrente ao do Vanguard, a atitude vitoriosa desproporcionada como o acontecimento foi mostrado e noticiado explicava-se mais por se tratar do clímax do enredo psicológico colectivo entretanto gerado do que pelos méritos científicos objectivos da proeza.
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