22 dezembro 2014

CONVERSÕES OCORRIDAS NAS INÚMERAS ESTRADAS QUE LEVAM A DAMASCO

Carlos Abreu Amorim (à esquerda) nasceu em 1963. João Carlos Espada nasceu em 1955. Os oito anos de idade que os separam são contudo divididos por um enorme fosso geracional. Se ambos são hoje dois entusiasmados liberais, o primeiro é-o, por assim dizer, desde nascença, embora tenha agora anunciado ruidosamente – e daí a razão deste poste – que o deixou de o ser. O segundo só se tornou liberal depois de um rocambolesco percurso que o fez abraçar (com o entusiasmo que dispensará a tudo o que abraça) inicialmente o marxismo-leninismo-maoismo da UDP nos anos 70, para depois chegar ao liberalismo numa navegação ideológica à bolina da extrema esquerda para a direita, numa caravela baptizada de Clube da Esquerda Liberal, viagem marítima que durou a década seguinte, espaço ideológico onde finalmente se estabeleceu e onde veio a medrar. Da última vez que dei por Espada aí pela imprensa, dava ele parabéns a Mário Soares por, entre outras coisas, ter feito aquilo a que ele, Espada, se opusera no momento em que Soares o fizera a 25 de Novembro de 1975, mas com que ele agora concorda. Não é assim muito coerente mas parece ter sido remunerador. Mas, como assinalei acima, a novidade que motiva este texto não é a sedentarização de alguém que foi um nómada intelectual na juventude (Espada), mas a inesperada nomadização de quem a atravessara - à juventude - como um acomodado sedentário ideológico (Amorim) e que acabou de anunciar ribombantemente (e ele sabe-o lá fazer de outra forma?...) numa entrevista que Já não é um liberal: O estado tem de ter força.
Ora não restam duvidas que a conversão de Carlos Abreu Amorim surpreende tanto que lembra a que se verificou com Saulo na estrada de Damasco (Actos dos Apóstolos 9: 1–30, relembremos, já que ele reintroduziu a moda de citar antigos textos religiosos). Mas também esta transumância é capaz de deixar inúmeras interrogações atrás dela: Será que ser-se liberal estará a sair de moda? Se sim, e porque estarão a deixar-se ficar para trás, será que o sempre atento João Carlos Espada – e outros – estarão a perder a sensibilidade do que é estar-se na moda? Ou será que existe um limite máximo de piruetas ideológicas por carreira intelectual e há veteranos – como Espada – que já as gastaram todas? Ou será, tão simplesmente, que o gesto de Carlos Abreu Amorim se virá a revelar prematuro e/ou inconsequente?

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