08 dezembro 2014

ENTRE OS ENVERGONHADOS E OS DESAVERGONHADOS

Eu creio que existe um espaço de razoabilidade entre ser-se envergonhado e ser-se aquilo que se (normalmente outrém) classifica por desavergonhado. E tudo isto salvaguardado por aquele direito natural das pessoas mudarem radicalmente de opinião. Mas quando leio no Público de hoje mais um dos inúmeros artigos de saudação de Mário Soares pelos seus noventa anos, confesso quanto me incomoda as exuberâncias acusatórias de certas passagens da opinião do professor João Carlos Espada. É que, para um memorialista que ali recorda (oportunamente) citações da entrevista dada em 1975 por Álvaro Cunhal à jornalista Oriana Fallaci, conviria esclarecer (e é uma pena que ele não o faça de moto próprio..) que na época em questão o jovem João Carlos Espada militava na UDP, uma organização que era tanto ou ainda mais radical nos seus propósitos antidemocráticos do que o era o PCP. Ou seja, e para utilizar uma das suas expressões (colocada aliás em destaque), Espada era um daqueles que ameaçava de nova ditadura comunista o povo português, cuja resistência seria então liderada por Mário Soares. E remate-se que João Carlos Espada é aqui apenas um excesso desavergonhado de uma atitude que é recorrente, embora expressa de uma forma mais envergonhada. Houve imensas inflexões de princípios políticos desde esses tempos, de muita gente conhecida, mas raramente se ouvem as suas meas culpas. A pergunta cómica do Baptista-Bastos perguntava pelo paradeiro no 25 de Abril mas a pergunta capaz de engasgar muito interlocutor é perguntar-lhe por onde andava no 25 de Novembro...

2 comentários:

  1. Provavelmente Espada prefere recordar o seu passado mais recente aquela fase da Esquerda Liberal em que apoiou o MASP de Mário Soares.

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