A Albânia é um pequeno país europeu, com cerca de 3 milhões de habitantes (ou seja, menos de ⅓ de Portugal) e indicadores económicos e sociais que a colocam – a ela sim – na cauda da Europa. Já assim era há 40 anos mas a aura de que então gozariam as ideologias e o facto de ali vigorar um regime que era uma dissidência de outra dissidência (maoista) do comunismo soviético, parecia conferir àquele país uma capacidade de gerar uma empatia entre a juventude portuguesa para-revolucionária do pós 25 de Abril que era absurdamente desproporcionada para a sua real importância estratégica. Esse conjunto de jovens determinados a aplicar por cá experiências sociais de sucesso (acima) vindos daquelas paragens estavam agrupados numa organização denominada UDP (União Democrática Popular), onde militaram nomes proeminentes da actualidade: Jorge Coelho, João Carlos Espada, José Manuel Fernandes, Henrique Monteiro ou Esther Mucznik serão apenas alguns nomes de um elenco riquíssimo de antigos admiradores da sociedade edificada na Albânia pelo partido comunista dirigido por Enver Hoxha, elenco esse que até se encontra representado ao mais alto nível no actual governo pela pessoa de Nuno Crato, o ministro da Educação (foto abaixo).
Saber-se por onde andaram todas aquelas figuras nos seus anos loucos de juventude servirá para que se reduza às devidas proporções muito daquilo do que agora dizem e escrevem, sobretudo se o enquadrarmos pelo percurso de cada um desde aqueles anos tresloucados, em alguns casos a paixão e o estilo são até os mesmos, o objecto da dita paixão é que se situa agora nos antípodas ideológicos. Mas isso é a história dos que saíram. Porque há a história dos que ficaram: como uma daquelas telenovelas radiofónicas que, passado o período do apogeu de popularidade e da saída das estrelas que lha conferiam, se insiste em manter no ar, também a UDP ainda sobrevive na figura de uma associação política que faz parte, por sua vez, do conglomerado que constitui o Bloco de Esquerda. Nestes dois últimos fins-de-semana, a associação política esteve em vias de conseguir conquistá-lo, ao Bloco, por dentro. Falhou, mas para que isso acontecesse, os outros tiveram que engendrar uma solução que é um disparate – 6 coordenadores?! Como é que se coordena seja o que for a seis vontades, ainda que a uma só voz? Mas, enquanto a Heidi tentava ontem explicar a razoabilidade da solução na conferência de imprensa, não me impedi de olhar para eles, lá atrás, patibulares como os seus antepassados – que a revolução sempre foi uma coisa muito séria! – e perguntar-me, nostálgico, quantos deles reconhecerão o velho indicativo de Rádio Tirana¹?
¹ Era uma estação de rádio em onda curta que, naqueles meios e nos idos anos de 1975, era chiquíssimo, quase obrigatório, dizer-se que se ouvia. Ficou famoso um aviso seu, a propósito das intenções maléficas de uma esquadra da NATO que se aproximava das costas portuguesas. Simbólico dos tempos, o anúncio era acompanhado de um apelo para uma concentração no Terreiro do Paço para a defesa de Portugal – provavelmente porque ficava ali mesmo à beira-rio, impedia-se a esquadra de desembarcar...
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