15 janeiro 2021

O AFUNDAMENTO DA TORRE «OFFSHORE» DE RADAR

15 de Janeiro de 1961. Afundamento de uma torre de radar offshore ao largo do estado americano de Nova Jérsia. Diga-se que a história deste acidente de há sessenta anos se torna mais interessante pela descrição do equipamento acidentado do que pelo próprio acidente. Na segunda metade da década de 1950 e com a agudização das ameaças soviéticas sentidas pelos americanos no quadro da Guerra Fria, o Pentágono decidiu construir um conjunto de torres com radares ao largo da costa Leste dos Estados Unidos. Estimava-se que o dispositivo permitiria ganhar cerca de 30 minutos de antecipação na eventualidade de um ataque aéreo soviético àquela que era na época, com 20% da população total, a maior concentração urbana dos Estados Unidos, uma megalópolis conhecida hoje por BosWash (que se entende de Boston à capital, Washington, passando por Nova Iorque, Filadélfia e Baltimore). A ideia parecia boa, a engenharia para a concretizar é que era todo um outro problema: uma torre de radar é tanto mais eficaz quanto mais elevada for; mas, quanto mais elevada ela for, tanto mais instável será a sua estabilidade, especialmente se a torre estiver fundeada numa zona oceânica sujeita a frequentes tempestades. Como era o caso. Em Setembro de 1960 a Texas Tower 4 (TT-4) apanhara com o furação Donna, que a deixara em estado periclitante. Tão mau estado, que se decidira a reduzir a equipa que a operava a um mínimo: 14 técnicos da Força Aérea, em vez da guarnição de 70, a que se juntavam outros 14 trabalhadores da empresa construtora, a fazer trabalhos de reparação dos danos. Mas, apesar de todos os alertas dos operadores ao longo das tempestades daquele Inverno, parecia estar fora de questão evacuar a torre, não se desse o caso de algum navio russo se aproveitasse da situação para se apoderar do material de radar que ela continha, enquanto os ocupantes a consideravam uma «ratoeira da morte». Ao fim da tarde de 15 de Janeiro de 1961 a torre emitiu um último apelo de socorro. Não houve quaisquer sobreviventes e apenas se recuperaram dois dos vinte e oito cadáveres. Houve inquéritos e sanções, mas o aspecto mais irónico da tragédia é que a evolução tecnológica já então havia tornado as torres obsoletas para o fim para o qual haviam sido concebidas: o aparecimento em 1957 do primeiro míssil intercontinental soviético (ICBM) neutralizara os 30 minutos de antecipação conseguidos pelas torres-radar. Em 1963, as restantes torres viriam a ser retiradas de serviço.

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