23 de Janeiro de 1961. Henrique Galvão com 24 homens sequestram o navio de passageiros Santa Maria em pleno Mar das Caraíbas. A história do assalto ao Santa Maria está mais do que contada, foi até objecto de um filme. O episódio foi um grande golpe de propaganda anti-regime, com o regime a organizar um grande golpe de contra-propaganda aquando do retorno do navio a Lisboa. Mas depois da versão oficial de 1961 (que vigorou até 1974), a versão que vigora desde aí é de uma indulgência para com as acções de Henrique Galvão e do seu comando que me incomoda, para não dizer que me irrita. A começar pela pomposidade de lhe conferir uma designação de Operação Dulcineia. Um dos aspectos que nunca se vê bem esclarecido é o da composição do comando que tomou o navio: dos 25 homens que assaltaram o navio, quantos é que eram portugueses? Pela omissão, desconfia-se que seriam uma minoria. Que história é aquela de uma organização vagamente ibérica para justificar o contributo de mercenários espanhóis numa operação político-militar com objectivos predominantemente portugueses num navio português? Denominaram essa organização de Directório Revolucionário Ibérico de Libertação, mas nunca mais se deu por cá pela actuação de tal directório (para não dizer que a denominação me faz lembrar uma daquelas organizações inventadas pelo Artur Baptista da Silva...). Por que é quase nunca se menciona o morto e os dois feridos entre os membros da tripulação que resistiram ao assalto? E a que exército pertencerão aqueles rutilantes galões que Henrique Galvão ostenta nos ombros? (recorde-se que ele era apenas capitão do exército) Há em todas estes detalhes indícios de uma megalomania disparatada e inconsequente: os assaltantes esperavam desencadear a revolução só por aparecerem com o Santa Maria na baía de Luanda?... São intenções e desejos tão disparatados que eles não podem ser ignorados, por benevolência, pelas simpatias políticas de quem hoje evoca os acontecimentos. Significativamente, existindo em outros idiomas, não existe página da wikipedia em português especificamente dedicada ao sequestro do Santa Maria.
Da primeira vez que os vi, também achei estranhos os galões/estrelas do capitão.
ResponderEliminarNunca o procurei descobrir, mas entretanto, já vi noutras imagens e noutros ombros aqueles galões estrelados.
Não tenho a certeza se era com tantas estrelas, mas julgo que os vi em imagens de oficiais em postos de governação colonial. Por baixo os galões do posto, por cima as estrelas.
Seria um qualquer sinal de graduação dos oficiais das forças armadas em funções de alta governança?
uma graduação ao estilo do coronel tirocinado, que pode já exercer funções de oficial-general, e usa 1 estrela sobre os galões do posto? É apenas uma reflexão pessoal.
P.S. A despropósito, mas a propósito de galões, julgo que o modelo dos nossos virá do reino de Sabóia. Se não me falha a memória, uma vez vi (na net) as insígnia dos postos do reino italiano no século XIX e eram iguais aos nossos. Não voltei a encontrar essa informação. Coisas de Luís I e de Maria Pia?
P.P.S. Gosto muito do Herdeiro de Aécio e do seu modo criticamente informativo.
Começo por agradecer o seu comentário elogioso.
ResponderEliminarQuanto à natureza dos galões de Galvão, não me tinha lembrado da referência, bem pertinente!, que faz aos galões dos administradores coloniais combinadas com os galões da patente militar.
No contexto para o qual foram originalmente concebidos, em terras africanas remotas, entre administrados na sua esmagadora maioria analfabetos, acredito que aqueles galões deviam tornar quem os usava num homem importantíssimo! Mas no contexto em que os vemos envergados no pequeno documentário, a uma mesa de negociações diante de um almirante americano (que representa os aviões e os canhões de quem não tolera actos de pirataria naval em águas americanas...), o adereço é mais do que ridículo: é patético.
PS - Sempre supus, sem grandes reflexões, que o «design» dos galões dos oficiais das nossas forças armadas se inspirassem nos padrões franceses.