Se, como se viu ontem, em 1958 o general de Gaulle havia mostrado em França que se podia utilizar o instrumento do referendo para contornar as resistências da classe política e apelar directamente à expressão da vontade popular, outros militares houve que, do exemplo, apenas retiraram as lições de como se procederia formalmente para conferir uma aparência de legalidade sufragada aos regimes de força. Dez anos depois, quase contados dia a dia, a 29 de Setembro de 1968, a Junta Militar dos coronéis, que tomara o poder na Grécia, organizou também um referendo à «sua» constituição. A atender aos resultados do escrutínio, apurados no dia seguinte, os coronéis haviam arrebatado os gregos: 94,9% dos votos haviam sido favoráveis à nova constituição! Pormenor não despiciendo: os doze primeiros artigos (aqueles que tradicionalmente abordam os direitos, liberdades e garantias dos cidadãos) ficariam, para já, suspensos por tempo indeterminado... Ao mesmo tempo que anunciava esse pequeno senão, o primeiro ministro (e a cara mais visível da junta), o coronel Georgios Papadopoulos (1919-1999), procurava compensá-lo com o anúncio que a nova constituição entraria imediatamente em vigor. A ideia que se procurava vender naquela época era que os militares no poder eram muito práticos, não perdiam tempo com detalhes... Uma outra característica da época era que, ao contrário do que hoje acontece, os referendos não metiam medo a ninguém: não havia pudor em forjar o resultado.
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