Com distanciamento, acredito que se vivem tempos verdadeiramente revolucionários na América, reminiscentes daqueles que há quase 220 anos (1789) se viveram em França. Só que, o enfâse que era dispensado aos apoiantes populares recebido pela Revolução francesa, incidia sobre aquilo que tinham, ou melhor, sobre aquilo que eles não tinham, conhecidos como eram por «sans culottes», sendo a culotte a peça de vestuário que, naquela época, conferia distinção social. Em contraste, os apoiantes populares da actual Revolução americana (2016) são também uns destituídos, mas já não de bens materiais, antes de cultura, educação e/ou inteligência, enfim de tudo aquilo que remotamente possam ser considerados bens intelectuais. Se as convenções tradicionais obrigavam os revolucionários das revoluções delfins da francesa a serem - ou passarem-se por - pobres, a partir de agora, pelos cânones da verdadeira Revolução americana, os revolucionários têm que ser - ou fingirem-se - altivamente ignorantes e estúpidos, impermeáveis a qualquer argumentação racional¹. Aos «sans culottes» parisienses (que seguiram acriticamente as derivas cada vez mais radicais de Maximilien de Robespierre até à sua perdição), sucedem-se-lhes agora os «brainless» americanos, a quem nada na conduta política e moral de Donald Trump parecerá incomodar - uma maioria silenciosa, como se exibe no cartaz acima, incluindo não apenas os que votam nele e o apoiam, como todos os outros a quem a sua conduta não os impele sequer a ir votar pelo outro (seja ele qual for...).
¹ É por causa dessa óptica que há que considerar Kellyanne Conway, criadora da expressão «factos alternativos» e da tecnologia dos «microfones a micro-ondas», uma das grandes revolucionárias do Século XXI.
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