Há precisamente 40 anos, Portugal, que estava em perspectivas de se ver a braços com uma guerra civil enquanto procurava gerir como podia outra, abertamente declarada, em Angola, via desencadear-se uma terceira guerra civil num dos últimos territórios sob sua responsabilidade administrativa: Timor. Uma das facções nacionalistas (UDT) promovera localmente um golpe militar e a facção rival (FRETILIN) preparava-se para reagir simetricamente nessa última colónia do Império, situada do outro lado do mundo, de onde as notícias chegavam desfasadas (há 8 horas de diferença entre Lisboa e Díli) e as imagens eram escassas.
Mesmo assim, para quem tinha por referência aquilo que já se conhecia de Angola dos combates entre MPLA, FNLA e UNITA, o aparato bélico dos combatentes timorenses era peculiarmente exótico, combinando os cortes de cabelo da moda com armamento e equipamento vetusto, caso de capacetes, pistolas-metralhadoras FBP e espingardas Mauser em vez das G-3 que há muito equipavam o exército português em todo o outro Ultramar que havia estado em guerra. Quanto ao resto, e pelo que se ia sabendo do desenrolar das operações, os prosaicos morteiros pareciam desempenhar o papel de arma decisiva nessa remota colónia...
...onde nem sequer a ocupação japonesa durante a Segunda Guerra Mundial conseguira servir de estimulo para a dotar de meios mais sofisticados de defesa – por exemplo, artilharia. Ou então, as forças armadas portuguesas haviam incorporado a experiência da invasão indiana a Goa, Damão e Diu em 1961 e assumira-se que nenhum reforço adicional de meios teria feito qualquer diferença em caso de uma invasão indonésia, como de facto veio a acontecer em 7 de Dezembro de 1975. Naquele conflito, únicos adereços perfeitamente ao ritmo do seu tempo só mesmo o camuflado e os óculos ray-ban de um muito jovem (25 anos) José Ramos-Horta...
Sem comentários:
Enviar um comentário