As evocações tendem a fazer esquecer, senão mesmo a distorcer, como os acontecimentos foram realmente acompanhados. Sobre a bomba nuclear lançada sobre Nagasáqui, cujo septuagésimo aniversário foi ontem assinalado pelo Japão, o destaque dado ao acontecimento por um jornal como o Diário de Lisboa de há 70 anos (10 de Agosto de 1945) é significativo da importância dos acontecimentos: o que se destacava na primeira página é que o Japão parecia agora disposto a render-se (clicar em cima para ampliar). O valor informativo da utilização da segunda arma nuclear aparecia diluído na segunda página no meio de uma coluna descrevendo aquilo que designa como a ofensiva aérea contra o Japão, visando-o, assim como à Formosa, a Singapura, e às outras possessões ainda sobre domínio japonês. Recuperando a expressão inglesa business as usual, neste caso era a guerra que, a não ser pela iniciativa japonesa ou pelo discurso de Harry Truman, parecia prosseguir como de costume: war as usual. E não eram os nossos avós que eram insensíveis, nós é que, apropriando-nos das suas efemérides, nem nos apercebemos de quais eram as suas genuínas preocupações.
Sem comentários:
Enviar um comentário