Com poucos dias de intervalo, lêem-se duas crónicas de propósito muito semelhante, embora redigidas cada uma em seu estilo conforme os autores. Azeredo Lopes e Ferreira Fernandes expõem o absurdo de muitas indignações e mobilizações nas redes sociais (mas não só...) por causas que envolvem o sofrimento de animais, quando comparadas com outras, simultâneas, que envolvem os nossos semelhantes. Para Azeredo Lopes, os clamores de indignação pela morte de um leão por um caçador recreativo no Zimbabué mais que abafaram os que nem se chegaram a ouvir pelo assassinato de um automobilista às mãos de um polícia nos Estados Unidos. Afinal, sabe-se que o primeiro se chamava Cecil e o nome Samuel Dubose não desperta qualquer reconhecimento. Na sua ironia ácida, Ferreira Fernandes conclui que a uma ré, professora condenada desapercebidamente à pesada pena de seis anos de prisão, melhor teria sido ser uma cadelinha chamada Inês, para que se gerasse uma outra onda de simpatia para consigo nas redes sociais... Nesta época de revivalismos, com a estreia da versão 2.0 do filme Pátio das Cantigas (1942), estas indignações colectivas bem poderiam ser comentadas desenvolvidas para uma edição actualizada dos contos do livro Bichos (1940) de Miguel Torga.
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