14 de Abril de 1939. Por causa da tensão internacional, o presidente norte-americano envia uma carta de 7 páginas ao chanceler alemão. A História demonstrou o quanto a iniciativa de apaziguamento se revelou infrutífera. Mais do que isso e como se pode ver no video depois da carta, Adolf Hitler aproveitou-se da carta para, para além de recusar a proposta, fazer troça pública e ostensivamente do gesto de Franklin Roosevelt.
Sua Excelência Adolf Hitler
Chanceler do Reich Alemão
Berlim (Alemanha)
Com certeza que se apercebeu que, por todo o Mundo, centenas de milhões de seres humanos vivem hoje no receio constante de uma nova guerra ou mesmo de uma série de guerras.
A existência deste receio – e a possibilidade desse conflito – são uma preocupação do povo dos Estados Unidos em nome do qual falo, tal como a devem ser a dos povos de outras Nações de todo o Hemisfério Ocidental. Todos eles sabem que qualquer grande guerra, mesmo que se cinja a outros continentes, repercutir-se-á sobre eles, quer durante a sua existência, quer em consequências para as gerações vindouras.
Por causa do facto de, após as tensões agudas que o Mundo viveu nas últimas semanas, parecer existir agora um momento de relaxe – não existem movimentações de tropas em curso – este será momento oportuno para eu lhe enviar esta mensagem.
Em ocasião prévia, dirigi-me a si em defesa da resolução dos problemas políticos, económicos e sociais por métodos pacíficos e sem o recurso às armas.
Mas a evolução dos acontecimentos parece ter feito regressar a ameaça das armas. Se a ameaça persistir, parece inevitável que uma boa parte do Mundo caminhará para uma ruína comum. Todo o Mundo, Nações vencedoras e vencidas e neutrais, sofrerão. Recuso-me a acreditar que o Mundo esteja, necessariamente, preso a esse destino. Pelo contrário, parece-me claro que os líderes das grandes Nações têm o poder de libertar os seus povos de um desastre quando se parece impor. É igualmente claro que, no seu próprio íntimo, os próprios povos aspiram a que desapareçam os seus medos.
Todavia, é infelizmente necessário tomar em consideração os factos recentes.
Três Nações da Europa e uma de África viram a sua existência como países independentes terminada. Um vasto território de uma outra Nação independente no Extremo Oriente é ocupado por um Estado vizinho. Relatos, que confiamos não sejam verdadeiros, apontam para que outros actos de agressão se prevêem ainda contra outras Nações independentes. É claro que o Mundo se encaminha para um momento de desfecho catastrófico a não ser que se encontre uma maneira mais racional de conduzir os acontecimentos.
O senhor tem afirmado repetidamente que o senhor e o povo alemão não deseja a guerra. Se isso for verdade, não há necessidade que haja qualquer guerra.
Não há nada que possa persuadir os povos da Terra que qualquer governo tem o direito ou a necessidade de infligir as consequências de uma guerra no seu ou noutro povo com excepção da óbvia situação de auto-defesa.
Ao afirmar isto, nós, Americanos, dizemo-lo sem ser por egoísmo ou medo ou fraqueza. Se o fazemos agora é empregando a voz da força e da amizade pela Humanidade. Continua a ser para mim claro que os problemas internacionais podem ser resolvidos à mesa das negociações.
Não é por isso argumento em prol da discussão pacífica que um das partes assuma que, a não ser que receba garantias prévias que o desfecho seja a seu contento, não deporá as suas armas. Nas mesas de negociações, como nos tribunais, é necessário que as duas partes participem na discussão de boa fé, assumindo que haverá vantagens recíprocas; e é costume e necessário que as armas sejam deixadas à porta do local das negociações.
Estou convencido que a causa da Paz Mundial receberia um grande reforço se as Nações de todo o Mundo recebessem uma declaração franca sobre as políticas actuais e futuras dos Governos.
Porque os Estados Unidos, como uma das Nações do Hemisfério Ocidental, não está envolvido directamente nas controvérsias que apareceram na Europa, confio que o senhor esteja disposto a me fazer uma declaração desse teor, como chefe de uma Nação bem afastada da Europa, para que eu possa, agindo unicamente com as responsabilidades e obrigações de um intermediário amistoso, possa transmitir essa declaração a outras Nações por ora apreensivas com o curso que a política do seu Governo possa vir a tomar.
Está na disposição de assegurar que as suas forças armadas não atacarão ou invadirão o território ou as possessões das seguintes Nações independentes: Finlândia, Estónia, Letónia, Lituânia, Suécia, Noruega, Dinamarca, Países Baixos, Bélgica, Grão Bretanha e Irlanda, França, Portugal, Espanha, Suíça, Liechtenstein, Luxemburgo, Polónia, Hungria, Roménia, Jugoslávia, Rússia, Bulgária, Grécia, Turquia, Iraque, as Arábias, Síria, Palestina, Egipto e Irão?
Essa garantia teria que claramente se aplicar não apenas ao momento presente como também a um futuro suficientemente distante para criar a oportunidade para trabalhar por métodos pacíficos para uma Paz mais duradoura. Sugiro por isso que a aplicação da palavra “futuro” seja entendida para um período mínimo de não-agressão assegurada de dez anos, até a um quarto de século, se nos atrevermos a pensar a tal distância prospectiva.
Se uma tal garantia for dada pelos seu Governo, eu transmiti-la-ei de imediato aos Governos das Nações que acima mencionei e questionarei de imediato, como estou razoavelmente seguro que acontecerá, se cada uma daquelas Nações estará disposta a dar-lhe a mesma garantia, reciprocamente.
Será o tipo de gesto que trará um alívio imediato a todo o Mundo.
Proponho que, a acontecer, dois problemas essenciais venham a ser discutidos no ambiente distendido resultante, e nessas discussões o Governo dos Estados Unidos terá muito gosto em participar.
As discussões a que me refiro relacionam-se com a forma mais imediata e efectiva para que os povos do Mundo se possam aliviar do fardo do rearmamento que está progressivamente a levá-los para um desastre económico. Em simultâneo, o Governo dos Estados Unidos estaria preparado para tomar parte em discussões para uma forma mais prática de criar vias mais amplas para o comércio internacional, com o objectivo de que todas as Nações do Mundo possam ser capazes de comprar e vender no mercado mundial assim como assegurarem os meios de obterem os materiais e produtos para uma vida económica pacífica.
Ao mesmo tempo, aqueles outros Governos para além do dos Estados Unidos e que estejam directamente interessados podiam desenvolver as suas próprias discussões políticas no que respeita aquilo que considerassem necessário e conveniente.
Reconhecemos os problemas complexos do Mundo que afectam toda a Humanidade, mas sabemos que o estudo e a discussão dos mesmos se deve realizar num ambiente de Paz. O Ambiente de Paz não pode existir se as negociações forem eclipsadas pela ameaça da força ou o receio da guerra.
Creio que não interpretará mal o espírito de franqueza desta missiva. Os chefes dos grandes Governos nesta hora crucial são literalmente responsáveis pelo destino da Humanidade nos anos mais próximos. Não podem falhar na audição das orações dos seus povos para que se protejam do previsível caos da guerra. A História os tornará responsáveis pela vida e felicidade de todos, até aos mais humildes.
Espero que a sua resposta faça com que seja possível que a Humanidade perca o medo r recupere a segurança por muitos anos.
Uma mensagem similar foi endereçada ao Chefe do Governo Italiano.
Franklin. D. Roosevelt
Porque é importante hoje em dia, invocar a carta e ver o vídeo da resposta de Hitler? Para constatar o quanto os protagonistas da situação internacional podem mudar tanto em oitenta anos: se pensarmos numa política externa vocacionada para o bullying e o fanfarronismo, pensamos de imediato no actual sucessor de Roosevelt, Donald J. Trump; mas se pensarmos numa figura prestigiada e ponderada da cena internacional, uma das figuras que mais facilmente nos ocorre será a longínqua sucessora de Hitler, Angela Merkel...
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