20 abril 2023

O FACCIOSISMO DA REVISTA «THE ECONOMIST»

Esta será a terceira vez que retorno a este mesmo tema, este mês, (1) e (2), mas a culpa atribuo-a toda à continuada e descarada parcialidade como a revista inglesa The Economist tem estado a acompanhar e comentar as antevisões e os balanços dos altos representantes de grandes potências que têm passado recentemente por Pequim. Os quatro artigos abaixo estão dispostos pela ordem cronológica da sua publicação, o mais antigo tem pouco mais de duas semanas (4 de Abril). Nele se manifestava a preocupação que o anfitrião Xi Jinping pudesse dar a volta ao visitante Emmanuel Macron. Na altura perguntei porque não formulavam a questão da forma oposta: e Macron, não seria capaz de dar a volta a Xi?... Ou melhor: provavelmente ninguém daria a volta a ninguém, que estas visitas são coreografadas com antecedência. A atitude é substancialmente diferente no artigo do lado (10 de Abril), a respeito do que esperar da visita de Luiz Inácio Lula da Silva a Pequim, onde uma sobranceria desdenhosa irritante sintetiza a política externa brasileira como hiperactiva, ambiciosa e ingénua (repare-se que a visita de Lula é a Pequim, mas a foto mostra-o na companhia de Joe Biden). Em Londres, na sede da The Economist, consideram Lula um totó
Passados dois dias (12 de Abril), o mesmo Emmanuel Macron voltava a ser objecto de uma nova crítica preocupada porque cometera um erro a respeito de Taiwan. Macron partira no dia 8 e a sugestão do artigo é que poderá ter sido algo que ele declarou que dera carta branca a que a China desencadeasse os exercícios militares ao largo da ilha... que começaram nesse mesmo dia 8. Em contraste, podemos folhear afincadamente a mesma The Economist nestes últimos dias para encontrar comentários às declarações produzidas por Luiz Inácio Lula da Silva na China. Podemos, mas, até hoje e já lá vão seis dias, não encontraremos nada sobre as declarações de Lula da Silva de que «as potências ocidentais estariam incentivando a guerra na Ucrânia». Não deve ser um erro de Lula, talvez sejam manifestações de hiperactividade ingénua do Itamaraty... Para colmatar esta omissão crítica da revista inglesa a respeito das declarações (desastradas) do presidente brasileiro, terão dado relevo, no entretanto (15 de Abril), à visita da ministra dos negócios estrangeiros alemã, Annalena Baerbock. Na The Economist gostam muito dela, mas não será bem a mesma coisa cobrir as visitas de chefes de Estado e de um mero ministro dos estrangeiros...

Em suma, é sabido desde há muitas décadas, dos tempos do general de Gaulle e mesmo antes disso, que o Eliseu tem sempre uma agenda própria quando se trata de política externa e que raramente se acerta com a das outras potências. Este foi mais um episódio. O que é menos conhecido é que uma revista internacional que se reclama de uma data de princípios notáveis de independência e isenção também mostre ter agenda própria, veja-se a forma facciosa - no caso anti-francesa - como notícia os factos.

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