03 abril 2023

RELEMBRANDO «BAGDAD BOB»

3 de Abril de 2003. Está-se em plena invasão do Iraque pelos Estados Unidos, e o ministro da informação iraquiano chama-se, na verdade, Mohammed Saeed al-Sahhaf. As suas intervenções mediáticas são de tal modo ridículas e desastrosas que os norte-americanos fazem-lhe a cortesia de ampliar ainda mais a sua divulgação mundial, atribuindo-lhe ao mesmo tempo uma alcunha apalhaçada: «Bagdad Bob». Quase tudo ali é caricato. O ministro aparece fardado quando nunca foi militar. Existe aquela montagem de microfones por detrás da qual ele aparece para falar, mas que se percebe ser forjada: é que no amontoado de logotipos não aparece nenhum reconhecível. E ainda não chegámos à intervenção propriamente dita de Bagdad Bob, onde ele mostra uma impressionante falta de ritmo (percebe-se que ele tem até dificuldade em ler com fluidez o texto que lhe fora preparado de antemão). É tudo tão mau que deixa as audiências boquiabertas. Mas será o despropósito daquilo que ele diz que o popularizará e virá a constituir mesmo um estilo: desde as asserções que "os soldados americanos se estavam a suicidar às centenas" até à negação enfática que os blindados americanos tivessem entrado em Bagdad quando os jornalistas os haviam visto a algumas centenas de metros do local onde decorria a própria conferência de imprensa. O estilo Bagdad Bob consistia em mentir descaradamente e negar o que era óbvio. Há 20 anos tal estilo conseguia surpreender e mesmo divertir os invasores norte-americanos que o distribuíam ao resto do Mundo. Nos dias que correm, os mesmos norte-americanos já se podem orgulhar de ter elegido um presidente que usa precisamente o mesmo estilo de mentir descaradamente e de negar o óbvio: Donald Trump. Terá sido uma vingança (por infecção?) tardia de Saddam Hussein?

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