05 abril 2023

O CASO DA HERANÇA SOMMER

5 de Abril de 1973. O muito mediático caso da herança Sommer registava uma reviravolta inesperada, quando o próprio representante do ministério público pedia a absolvição de um dos herdeiros, António Champalimaud. O caso da herança Sommer era uma disputa judicial entre familiares desavindos que contestavam a partilha da herança de um industrial dos cimentos chamado Henrique de Sommer, que, note-se, morrera em 1944, ou seja, quase 30 anos antes desta notícia. Vários factos se conjugavam para conferir notoriedade ao assunto. A família era abastada e o espólio em disputa era significativo. Incluía-se nele uma significativa parcela da indústria cimenteira nacional. Entre os litigantes contava-se António Champalimaud, que se tornara uma das figuras mais projectadas do capitalismo português. E porque era significativo o que estava em disputa, o julgamento atraíra a nata da advocacia portuguesa - eles mesmos propensos a serem estrelas de cartaz.
Os desentendimentos familiares mais sérios só haviam começado a tomar visibilidade pública na década de 1960 mas, transportados para a justiça, a litigância tornou-se uma caso sério! Em 1969, por exemplo, as outras partes haviam conseguido que fosse emitido um mandado de captura contra António Champalimaud, o que o fez fugir para o México, onde se refugiara nos últimos três anos e meio, antes desta notícia que possibilitaria o seu eventual retorno a Portugal. Daí o destaque. O que será difícil de perceber a esta distância é o zelo como a comunicação social de então acompanhava todos estes incidentes. Só nesta edição do Diário de Lisboa há, como se vê, um pouco mais de três páginas completas de texto dedicadas às minudências do que acontecera. Isto hoje é impensável: não há leitores para tal (extensa) redacção.

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